São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2011

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Obama cobra que os europeus façam a sua 'lição de casa'

Na abertura do encontro do G20, na França, presidente dos EUA cobra medidas para evitar que crise se alastre

Europeus prometem um 'anúncio importante' para hoje; Dilma pede apenas que europeus detalhem o aprovado

DO ENVIADO A CANNES

Todos os parceiros europeus do G20 cobraram ontem, na sessão inaugural da cúpula do grupo, mais medidas para evitar que a crise contagie outros países, além da já abalada Grécia, numa clara demonstração de que o pacote europeu do dia 27 passado foi incapaz de estabelecer o que o presidente Barack Obama definiu como "firewall" (corta-fogo).
Obama pediu que a Europa fizesse a lição de casa, porque, disse, o que acontece na Grécia afeta a Europa e o que afeta a Europa afeta o mundo. "É preciso fazer mais", disparou o presidente norte-americano.
Os dois líderes do condomínio europeu -o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel- atenderam o clamor generalizado e anunciaram que voltariam a se reunir ontem à noite, com o italiano Silvio Berlusconi e o espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, para fazer hoje um "anúncio importante".
À noite, em entrevista coletiva, Sarkozy confirmou a informação, implicitamente, ao dizer que "é preciso que a União Europeia envie uma mensagem de credibilidade ao mundo inteiro".
Mike Froman, assessor da Casa Branca para assuntos econômicos internacionais, explicou na sessão informativa usual com os jornalistas norte-americanos o teor da fala de Obama:
"Sobre a questão grega, deixe-me dizer apenas que a situação mostra a necessidade de se mexer rapidamente na direção da plena elaboração e total implementação do plano, incluindo um 'firewall' que seja suficientemente robusto e efetivo para assegurar que a crise não se espalhe de um país para outro." Em tese, o corta-fogo seria definir o montante e o funcionamento do FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira), que a cúpula do dia 27 prometeu elevar de € 440 bilhões para € 1 trilhão, suficiente a princípio para blindar Espanha e Itália.

DILMA TÍMIDA
A cobrança de corta-fogo foi feita também pelos governantes da Espanha e da Itália, com surpreendente ênfase pelo mexicano Felipe Calderón e timidamente pela brasileira Dilma Rousseff. Ela apenas pediu que os europeus dessem detalhes do pacote aprovado.
Dilma acrescentou frase que seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva proferiu há 15 dias, em seminário em Madri (Espanha): "A Europa é um patrimônio democrático da humanidade e precisa ser preservado".
O pacote de 27 de outubro, tido pelos líderes europeus como definitivo, não convenceu tampouco os mercados.
Prova 1: a Itália está pagando juros recordes para vender seus títulos a dez anos, os mais altos da era do euro (6,399% ou 4,5 pontos acima do que paga a Alemanha, quando o que vinha sendo normal até recentemente era algo em torno de 2 pontos).
Prova 2: bancos europeus estão se retirando da zona do euro, na expectativa de que a crise se agrave.
Avisa Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto de Finança Internacional, o clube dos grandes bancos, e que negociou o acordo do dia 27: "O valor de mercado da dívida dos países mais sob vigilância provavelmente declinará ainda mais na medida em que os bancos se livram de bônus da dívida soberana", disse.
Os "países sob vigilância" são Espanha e Itália, esta mais ainda.
Tanto que o próprio Sarkozy admitiu, na entrevista da noite, que o problema com o Itália não é a falta de um programa de ajuste fiscal, mas a implementação dos já anunciados. (CLÓVIS ROSSI)


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