São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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COLHEITA ELEITORAL

Região produtora que mais cresce ajuda a financiar presidenciável

Área cocaleira impulsiona Morales

DA REDAÇÃO

Nos últimos anos, o aumento do cultivo da coca na Bolívia foi impulsionado principalmente pela zona do Chapare, reduto do líder cocaleiro Evo Morales (Movimento ao Socialismo), que lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência no dia 18. Apenas entre 2003 e 2004, a produção cresceu de 7.300 hectares para 10,1 mil hectares (38%).
A região dos Yungas, onde plantar coca é legal e que recebeu migração maciça de cocaleiros do Chapare, é a principal área de cultivo no país (63% do total em 2004).
A ascendência de Morales no cenário nacional é talvez o maior símbolo do aumento do poder político dos cocaleiros com raízes no Chapare.
Seu partido, o MAS, é desde 2002 a segunda maior bancada no Congresso, ultrapassando os principais partidos tradicionais.
Há controvérsias sobre a vinculação desse poder ao aumento dos números da coca e ao narcotráfico. Para Kathryn Ledebur, da Rede Andina de Informação, a relação é indireta.
"Não creio que haja um vínculo direto entre o aumento de coca e o aumento de poder político. O surgimento do movimento cocaleiro e o desenvolvimento do MAS se devem a muitos fatores", afirma. "Mas, no tema da luta antinarcotráfico, o enfoque repressivo anticonstitucional e violento tirou legitimidade do governo boliviano, fazendo com que a opinião pública visse esse grupo, que antes havia sido caracterizado como de narcotraficantes e narcoterroristas, de outra maneira e aumentasse o apoio a Evo Morales."
Embora seja ponto pacífico entre os especialistas o fato de haver uma relação entre setores do Chapare com narcotraficantes, um envolvimento direto de Morales nunca foi constatado.
Seus opositores freqüentemente o acusam de financiar sua campanha com dinheiro do narcotráfico. À acusação, Morales responde que cobra uma cota dos cocaleiros - ou seja, que o financiamento de campanha vem da coca e não da cocaína.
"O fato", diz o cientista político Eduardo Gamarra, "é que os cocaleiros estão a ponto de eleger um presidente."
A legalização da coca é um dos eixos da campanha de Morales, ao lado da nacionalização dos hidrocarbonetos.
Entre outros pontos, seu programa de governo pede um estudo independente que determine a demanda real da coca para consumo tradicional.
Os EUA acompanham a discussão. "Espero que não haja mudanças, porque, se houver mudanças negativas, o país que vai sofrer é a Bolívia", disse recentemente o embaixador americano em La Paz, David Greenlee, sobre o tema.
Para 2006, os EUA já anunciaram uma redução de US$ 9 milhões na ajuda à Bolívia para o combate ao narcotráfico, com o montante total chegando a US$ 80 milhões. (CVN)


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