São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

Próximo Texto | Índice

Hugo Chávez é reeleito presidente da Venezuela

Apuradas 78% das atas, socialista tinha 61% dos votos, ante 38% de Rosales

Observadores estrangeiros apontam normalidade, e participação é estimada em 62%; Chávez celebra 'vitória de Bolívar e do amor

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Hugo Chávez foi eleito ontem para mais seis anos na Presidência da Venezuela. Com 78,3% dos votos computados, segundo o Conselho Nacional Eleitoral, o socialista tinha 61%, ou 5,94 milhões de votos, ante 38%, ou 3,7 milhões de votos, de seu maior concorrente, o moderado Manuel Rosales. Estimativas oficiais colocam o comparecimento em 62% --o voto não é obrigatório no país.
Assim que o resultado foi lido, rojões e gritos podiam ser ouvidos pelas ruas de Caracas. "Viva a Venezuela! Viva Bolívar! Viva a revolução socialista", disse Chávez da sacada do palácio Miraflores, no centro, depois de cantar, acompanhado por milhares que esperavam o anúncio, sob a chuva fina.
"Aqui está Cristo de braços abertos! É a vitória de Bolívar e do amor!", declarou. "Os venezuelanos não votaram em Chávez, mas em um projeto que tem nome, o socialismo bolivariano, o socialismo venezuelano. Que ninguém tenha medo do socialismo."
O ex-para-quedista Hugo Rafael Chávez Frías, 52, obteve a vitória com programas sociais eficientes e bons índices econômicos (ambos bancados pela alta do petróleo), apesar da recente onda de violência na Venezuela, das denúncias de corrupção no governo e de algumas ações arbitrárias. Agora, promete implantar a segunda etapa de sua "revolução socialista bolivariana", que prevê uma revisão constitucional que poderá lhe dar a possibilidade de reeleição sem limites.
Pela manhã, Chávez já falava como presidente reeleito. Disse que membros do governo entraram em contato com a oposição e elogiou "bons sinais" vindos dos EUA, com os quais quer "manter boas relações".
Teodoro Petkoff, chefe de campanha de Rosales, veio a público dizer que seu candidato só falará ao país "no momento oportuno, como deve acontecer com um candidato à presidência." O governador licenciado do Estado de Zulia teve o mérito de unir uma oposição até então dividida e dar voz a uma classe média e alta que se sente excluída pelo chavismo.

Atrasos
O boletim do CNE com os resultados parciais das eleições foi lido à 22h04 locais de ontem (0h04 de hoje de Brasília), horas após o esperado. O motivo da foi uma série de problemas técnicos, que atrasou a votação, provocou filas e troca de acusações entre Chávez e Rosales.
"Tenho relatos de problemas em 36% dos centros de votação que historicamente votam na oposição e em apenas 5% dos que votam no governo", disse Rosales, ao votar pela manhã em Maracaibo. "Não quero pensar que seja manipulação, mas peço ao CNE que verifique e ao eleitor que tenha cuidado."
Logo depois, ao votar em Caracas, o presidente venezuelano responderia. "Tudo anda normalmente", disse. "Espero que não seja alguém se sentindo derrotado que comece cedo dizendo isso e aquilo".
Os venezuelanos foram despertados já na madrugada por rojões que os convidavam a votar. Muitos foram para as filas já às 4h da manhã, duas horas antes de aberta a votação. Às 12h, milhares continuavam ali.
Às 16h, com o encerramento oficial, as filas persistiam, e os que esperavam começaram a gritar: "Queremos votar!". Parte da culpa era de máquinas eletrônicas que não funcionavam ou davam comprovantes em branco. Outra parte reside no complicado sistema de votação venezuelano, pensado para um país em que ambos os lados do espectro político acusa o outro de fraude. São sete etapas.
"Vi grandes filas, mas não vi nada impróprio", disse à Folha o veterano observador norte-americano Martin Garbus. Havia cerca de 1.200 observadores internacionais na Venezuela ontem. "Vimos paz e tranqüilidade", disse Billy Meyer, representante da União Européia. "Incidentes são normais em uma eleição desse tamanho."

Próximo Texto: Governo pode ter interrompido TV dos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.