São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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Chávez aceita derrota, mas não desiste

Venezuelano diz que cumpre vontade popular, reitera defesa da reforma da Carta e promete manter batalha por socialismo

Derrotado por pouco, ele repete o "por agora" que enunciou ao tentar golpe em 1992 e diz que vitória "pírrica" não lhe interessa

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente Hugo Chávez sofreu a primeira grande derrota política em nove anos ao ter sua proposta de reforma constitucional rejeitada no referendo realizado anteontem.
O venezuelano reconheceu a vitória da oposição, disse que "a vontade popular será cumprida", mas salientou que é "por agora" e que a proposta "continua viva". "Seguimos na batalha construindo o socialismo, no marco que nos permite esta Constituição", afirmou.
Chávez se pronunciou ontem em rede nacional pouco depois da 1h (3h no Brasil), depois de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgar o primeiro boletim do referendo, com 87% dos votos apurados e três horas de atraso em relação às previsões iniciais. Ele reconheceu que, àquela altura, a vitória da oposição era irreversível.
Com quase 90% dos votos apurados, o "não" obteve 50,70% no bloco A, que incluía a reeleição indefinida para presidente, contra 49,29% em favor do "sim". Em números de votos, a diferença -ainda parcial- foi de apenas 124.962.
Já o bloco B foi rejeitado por 51,05%, enquanto 48,94% o aprovaram. Essa parte do referendo trazia propostas de deputados chavistas, como a que tirava da Constituinte atual o direito à informação em caso de estado de exceção.
A divulgação dos resultados ocorreu em meio à expectativa provocada por supostas pesquisas de boca-de-urna que apontavam a vitória de Chávez (leia texto nesta página).
No seu pronunciamento, de uma hora, o presidente leu um texto de Simón Bolívar sobre a necessidade de consultar o povo e disse que o resultado do referendo era "um triunfo democrático de participação". Mas alfinetou a oposição ao chamar a vitória do "não" de "pírrica" e disse que ganhar por tão pouco não lhe interessaria.
Também foi contundente na defesa da reforma que propôs. "Nem uma vírgula eu retiro. Continuo fazendo a proposta ao povo venezuelano", disse. "Esta proposta está viva, não está morta." O presidente reforçou três vezes que perdeu "por agora", expressão que usou em 1992, ao se render depois de comandar uma tentativa de golpe contra o então presidente, Carlos Andrés Pérez.
Ele disse que foi derrotado pela abstenção -o "sim" teve 3 milhões de votos a menos do que ele teve ao se reeleger, há um ano."Estou seguro de que a imensa maioria continua conosco, não votaram pelo "não". Abstiveram-se por dúvidas, temores, faltaram tempo e capacidade para explicar."
Ontem à noite, Chávez disse que pode ter errado na escolha do momento para fazer a proposta e que talvez o país não esteja maduro para o socialismo.
Os principais dirigentes do Bloco do Não reagiram com retórica moderada à vitória. Ismael Garcia, líder do Podemos, partido social-democrata que rompeu com Chávez neste ano, disse que o momento é de "diálogo" e exortou o governo a parar de desqualificar a oposição.
Ontem, especulava-se de que maneira Chávez levará adiante seu projeto de Carta. Uma das possibilidades seria a convocação de uma nova Assembléia Constituinte, para o que seriam necessárias as assinaturas de 5% dos eleitores.
Quanto ao fato de que, sem a reeleição indefinida, Chávez terá que deixar o poder ao fim do atual mandato, em 2012, o sociólogo Edgardo Lander disse que o presidente não vai desistir da reeleição e especulou que poderia seguir de alguma forma no poder, como se espera do russo Vladimir Putin.
"Talvez o modelo venezuelano poderia ser o modelo Putin, em que ele não se lança à reeleição, mas terá uma maioria absoluta no Parlamento e o presidente que escolher." Lander disse que Chávez dificilmente aceitará ser "ex-presidente": "Um Chávez retirado para a vida no campo não é imaginável".


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