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Chávez aceita derrota, mas não desiste
Venezuelano diz que cumpre vontade popular, reitera defesa da reforma da Carta e promete manter batalha por socialismo
Derrotado por pouco, ele repete o "por agora" que enunciou ao tentar golpe em 1992 e diz que vitória "pírrica" não lhe interessa
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente Hugo Chávez
sofreu a primeira grande derrota política em nove anos ao ter
sua proposta de reforma constitucional rejeitada no referendo realizado anteontem.
O venezuelano reconheceu a
vitória da oposição, disse que "a
vontade popular será cumprida", mas salientou que é "por
agora" e que a proposta "continua viva". "Seguimos na batalha construindo o socialismo,
no marco que nos permite esta
Constituição", afirmou.
Chávez se pronunciou ontem
em rede nacional pouco depois
da 1h (3h no Brasil), depois de o
Conselho Nacional Eleitoral
(CNE) divulgar o primeiro boletim do referendo, com 87%
dos votos apurados e três horas
de atraso em relação às previsões iniciais. Ele reconheceu
que, àquela altura, a vitória da
oposição era irreversível.
Com quase 90% dos votos
apurados, o "não" obteve
50,70% no bloco A, que incluía
a reeleição indefinida para presidente, contra 49,29% em favor do "sim". Em números de
votos, a diferença -ainda parcial- foi de apenas 124.962.
Já o bloco B foi rejeitado por
51,05%, enquanto 48,94% o
aprovaram. Essa parte do referendo trazia propostas de deputados chavistas, como a que
tirava da Constituinte atual o
direito à informação em caso de
estado de exceção.
A divulgação dos resultados
ocorreu em meio à expectativa
provocada por supostas pesquisas de boca-de-urna que
apontavam a vitória de Chávez
(leia texto nesta página).
No seu pronunciamento, de
uma hora, o presidente leu um
texto de Simón Bolívar sobre a
necessidade de consultar o povo e disse que o resultado do referendo era "um triunfo democrático de participação". Mas
alfinetou a oposição ao chamar
a vitória do "não" de "pírrica" e
disse que ganhar por tão pouco
não lhe interessaria.
Também foi contundente na
defesa da reforma que propôs.
"Nem uma vírgula eu retiro.
Continuo fazendo a proposta
ao povo venezuelano", disse.
"Esta proposta está viva, não
está morta." O presidente reforçou três vezes que perdeu
"por agora", expressão que
usou em 1992, ao se render depois de comandar uma tentativa de golpe contra o então presidente, Carlos Andrés Pérez.
Ele disse que foi derrotado
pela abstenção -o "sim" teve 3
milhões de votos a menos do
que ele teve ao se reeleger, há
um ano."Estou seguro de que a
imensa maioria continua conosco, não votaram pelo "não".
Abstiveram-se por dúvidas, temores, faltaram tempo e capacidade para explicar."
Ontem à noite, Chávez disse
que pode ter errado na escolha
do momento para fazer a proposta e que talvez o país não esteja maduro para o socialismo.
Os principais dirigentes do
Bloco do Não reagiram com retórica moderada à vitória. Ismael Garcia, líder do Podemos,
partido social-democrata que
rompeu com Chávez neste ano,
disse que o momento é de "diálogo" e exortou o governo a parar de desqualificar a oposição.
Ontem, especulava-se de que
maneira Chávez levará adiante
seu projeto de Carta. Uma das
possibilidades seria a convocação de uma nova Assembléia
Constituinte, para o que seriam
necessárias as assinaturas de
5% dos eleitores.
Quanto ao fato de que, sem a
reeleição indefinida, Chávez terá que deixar o poder ao fim do
atual mandato, em 2012, o sociólogo Edgardo Lander disse
que o presidente não vai desistir da reeleição e especulou que
poderia seguir de alguma forma
no poder, como se espera do
russo Vladimir Putin.
"Talvez o modelo venezuelano poderia ser o modelo Putin,
em que ele não se lança à reeleição, mas terá uma maioria absoluta no Parlamento e o presidente que escolher." Lander
disse que Chávez dificilmente
aceitará ser "ex-presidente":
"Um Chávez retirado para a vida no campo não é imaginável".
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