São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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Governo e oposição da Bolívia se acusarão na OEA

Entidade ouvirá relatos de ações antidemocráticas

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Apesar de o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, afirmar que a crise com governadores oposicionistas não precisa de mediador externo, os dois lados do conflito anunciaram visitas à OEA (Organização dos Estados Americanos) para denunciar atos antidemocráticos dos adversários.
Uma comitiva de governadores de Santa Cruz, Pando, Beni, Tarija e Cochabamba, além de um dirigente de Chuquisaca -os departamentos (Estados) bolivianos que fizeram greve na semana passada-, viajou ontem aos EUA e deve encontrar o presidente da OEA, Miguel Insulza.
Os oposicionistas bolivianos agendaram visitas também à sede da ONU em Nova York e à ONG de direitos humanos Human Rights Wacht.
Em vários departamentos ontem, inclusive na rica Santa Cruz, dirigentes políticos se organizavam para fazer mais protestos contra o governo do presidente Evo Morales e arregimentavam apoiadores para fazer greve de fome.
Já o governo anunciou que amanhã deve entregar à OEA um documento no qual acusa os governadores por atos de violência e violações dos direitos humanos, além de ataques à propriedade privada e do Estado. O ministro de Governo, Juan Ramón Quintana, afirmou que o governo processará os dirigentes de Pando e Cochabamba por convocarem as Forças Armadas a desobedecer Morales.
Enquanto isso, a bancada do governista MAS (Movimento ao Socialismo) na Assembléia Constituinte tenta levar adiante em comissões a análise em detalhe, artigo por artigo, do texto da nova Constituição, embora não haja ainda nem local nem data para uma nova sessão. O prazo para o encerramento dos trabalhos termina em 14 de dezembro.
A oposição insiste em que só voltará à Assembléia se o governo declarar inválida a aprovação do texto geral da Carta, aprovado sem os opositores em um quartel da cidade de Sucre (sudeste) no dia 24. Para atrai-los, o MAS diz estar incorporando ao texto as visões acordadas com os oposicionistas antes da sessão questionada.

Reeleição
Segundo o assembleísta do MAS Raúl Prada, a proposta da reeleição é polêmica dentro da Assembléia, tanto para partidos de extrema esquerda quanto para os da direita.
Prada diz que o regulamento da Constituinte prevê que artigos que não tenham consenso sejam levados a análise à parte em referendo. O vice-presidente boliviano, García Linera, disse à Folha que o governo quer que a população responda em consulta separada uma pergunta exclusiva sobre as eleições consecutivas.
Mesmo que os governistas consigam maioria para aprovar a reeleição na Constituinte, a opção de analisá-la separadamente ajudaria a separar a próxima disputa eleitoral das demais discussões da já controversa nova Carta.
"Para o governo, convém separar a reeleição para não complicar-se", diz Prada, um dia depois de a nova Carta venezuelana, que incluía a reeleição ilimitada, ser rejeitada pela população do país. A oposição boliviana comemorou a derrota de Hugo Chávez, aliado de Evo Morales.


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