São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Índice

Irã abandonou em 2003 a produção da bomba, dizem EUA

Relatório das 16 agências americanas de inteligência contradiz versão anterior, mas cita risco de enriquecimento de urânio

Documento diz que decisão de Teerã foi tomada diante de pressões e que é preciso mantê-las; engavetamento é anterior a Ahmadinejad

DA REDAÇÃO

O Irã interrompeu seu programa secreto para a produção da bomba atômica no segundo semestre de 2003, mas o prosseguimento do enriquecimento de urânio ainda o capacita a desenvolver aquela arma entre 2010 e 2015, afirma documento ontem divulgado pelos serviços americanos de inteligência.
O relatório contradiz avaliação semelhante publicada há dois anos, segundo a qual o regime islâmico continuava empenhado na construção da bomba. O atual texto diz que a interrupção foi provocada por pressões diplomáticas, o que fortaleceria o atual comportamento dos Estados Unidos.
Ainda assim, no entanto, Washington e seus aliados no Conselho de Segurança da ONU vêem enfraquecido o argumento de que o Irã, ainda empenhado na bomba, deve ser alvo de um novo pacote de sanções, não se descartando a opção militar -bombardeios para destruir instalações nucleares.
As informações do relatório ontem divulgado não são as mesmas em poder da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que tem acesso apenas a uma parte dos equipamentos acionados com presumível finalidade civil.
É com base nos indícios revelados por aquela agência da ONU que os EUA, o Reino Unido e a França, países com poder de veto no Conselho de Segurança, pressionam os dois outros membros permanentes, a Rússia e a China, a elevarem o grau de punição ao Irã.

Consenso de agências
O documento americano foi redigido pela NIE (sigla em inglês de Avaliação de Inteligência Nacional), que reúne o diagnóstico consensual das 16 diferentes agências de Washington, entre elas a CIA e o FBI.
De modo indireto, o documento também revela que a interrupção da construção da bomba ocorreu bem antes da posse de Mahmoud Ahmadinejad, presidente iraniano desde agosto de 2005. E que ele, apesar de seu radicalismo verbal, não reverteu a deliberação.
"A decisão de Teerã de interromper a construção da bomba sugere que, ao contrário do que julgávamos desde 2005, o país está hoje menos propenso a desenvolvê-la", diz o texto.
O diretor da NIE, Mike McConnell, não publica os relatórios de seus serviços. Abriu exceção porque o documento de dois anos atrás trazia previsões mais alarmistas e precisava ser atualizado para alimentar o debate com relação ao Irã.
O assessor de segurança nacional da Casa Branca, Stephen Hadley, disse que o relatório confirma que "o problema permanece bastante sério". O texto "nos encoraja a prosseguir na questão diplomaticamente, sem o uso da força, conforme o governo americano tem procurado fazer", afirmou.
Segundo a NIE, o Irã manteve, no entanto, o plano de enriquecer urânio. A questão consiste em saber em quanto tempo Teerã teria quantidade suficiente de urânio altamente enriquecido para a bomba.
Projeções mais pessimistas apontam para 2010. O Departamento de Estado crê que isso ocorrerá um pouco mais tarde, em 2013, enquanto os serviços de inteligência citam 2015.

Bloco do golfo
Ontem, em Dubai, na primeira participação de um presidente iraniano na cúpula do Conselho de Cooperação do Golfo, Ahmadinejad exortou Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuait, Omã e Qatar a assinarem com Teerã um pacto econômico e de segurança para a região que seja "livre de influência externa".
Não houve, ainda, resposta dos países do CCG -todos eles sunitas e aliados aos EUA.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Ursinho Maomé: Professora é indultada e deixa o Sudão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.