São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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Congresso democrata racha sobre Iraque

Parte dos senadores que ontem tomaram posse pode apoiar plano de enviar mais soldados; idéia é do vice Cheney, diz jornal

Nancy Pelosi, eleita nova presidente da Câmara, diz querer fortalecer classe média e que simboliza a igualdade entre sexos

Jim Young/Reuters
A democrata Nancy Pelosi, eleita presidente da Câmara, é a primeira mulher a ocupar o cargo


DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush poderá contar com o apoio de democratas influentes no Congresso ao seu plano de aumento provisório, em até 30 mil homens, do contingente americano no Iraque.
Na quarta-feira acreditava-se ser mais ou menos consensual entre os democratas as opiniões de Nancy Pelosi, desde ontem presidente da Câmara, e Harry Reid, líder da maioria democrata no Senado. Eles disseram se opor a um aumento dos atuais 140 mil combatentes, posição também compartilhada por alguns deputados e senadores republicanos.
A inexistência de acordo entre os democratas foi demonstrada pelo "New York Times". O senador Carl Levin, que presidirá a Comissão das Forças Armadas, disse que não "prejulgará" negativamente a proposta de Bush e que a apoiaria caso ela se associe a uma estratégia mais ampla de desengajamento do conflito iraquiano.
"Eu não sou a favor desse aumento, a não ser que o presidente ainda me convença do contrário", disse outro senador democrata da mesma comissão, Mark Pryor.

Nova legislatura
Em clima festivo e com declarações efusivas, senadores e deputados iniciaram ontem a nova legislatura, na qual os democratas têm pela primeira vez, em 12 anos, a maioria na Câmara e no Senado.
Pelosi foi eleita presidente da Câmara por 233 votos a 201. Ela é a primeira mulher a ocupar o posto na história do Congresso. Declarou que "os democratas estão de volta" para "fortalecer a classe média" e não mais para "trabalhar pelos poucos privilegiados".
Referindo-se ao fato de uma mulher presidir a Mesa, afirmou: "Ao eleger-me para a presidência, vocês nos trouxeram mais pertos do ideal de igualdade que está nas raízes e nas esperanças americanas".
"Esperamos por esse momento por mais de 200 anos, sem nunca ter perdido a fé", acrescentou. Ela é agora a segunda pessoa na linha sucessória do presidente Bush, precedida apenas pelo vice-presidente Dick Cheney.
Dos 100 senadores, agora 16 são mulheres, duas a mais que nas eleições anteriores -em novembro último só a metade dos senadores foi eleita, para um mandato de quatro anos.
A mídia americana também apresenta como prova da diversidade em plenário o fato de Keith Ellison, do Estado de Minnesota, ser o primeiro deputado muçulmano.
Há 42 congressistas negros -43 deputados e um senador- , número idêntico ao da legislatura anterior.
Reid, o novo líder da maioria no Senado, disse que "chegou a hora de fazer os Estados Unidos andarem para frente" e que seu partido colocará o país "numa nova direção".

Iraque em pauta
Com relação ao aumento do contingente americano no Iraque, entre os democratas intransigentes está Joseph Biden, que presidirá a Comissão de Relações Exteriores. Ele disse que efetivos maiores para neutralizar os confrontos sectários "é uma estratégia absolutamente errada".
Segundo o "New York Times", a nova maioria democrata rejeita a idéia de cortar o orçamento do Pentágono como forma de influir na política da Casa Branca no Iraque.
Ela acredita que depoimentos televisionados em comissões tendem a mostrar os enganos que o governo cometeu durante a guerra. Já foram marcados 13 depoimentos, nas comissões de Relações Exteriores, Forças Armadas, Inteligência, Segurança Interna e Judiciário.
Entre os convidados, estão a secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o chefe do Pentágono, Robert Gates.
O jornal britânico "Guardian", em reportagem sobre os novos planos de Bush, disse que o vice-presidente Cheney é o verdadeiro pai da idéia de enviar 30 mil novos militares, o que contradiz as recomendações da Grupo de Estudos do Iraque, comissão bipartidária que divulgou seu relatório no início de dezembro.
Cheney se baseia num estudo do conservador American Entreprise Institute, segundo o qual as forças americanas não deveriam apenas neutralizar os focos urbanos da insurgência sunita, mas também se manter nos locais para impedir que os focos se reorganizem.
Essa "demonstração de vontade", que teria faltado aos americanos no Vietnã, não é apoiada por militares como Colin Powell, general da reserva e ex-secretário de Estado, ou, de maneira muito oficiosa, pelo general John Abizaid, comandante americano no Iraque.
De qualquer forma, a Casa Branca tem pressa, diz o "Guardian", porque dentro de seis meses expira a resolução 1.546 da ONU sobre a missão dos ocupantes naquele país. Um novo texto limitará as atribuições e o número de combatentes estrangeiros.


Com agências internacionais


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