São Paulo, sábado, 05 de janeiro de 2008

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Obama e Hillary entram em choque direto

Vitorioso em Iowa, senador aposta em "esperança" e "unidade" para minar vantagem de senadora entre democratas

Ex-primeira-dama, que ficou em 3º, tenta reforçar o medo da inexperiência do rival para virar o jogo na próxima etapa da disputa

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A DES MOINES

A vitória nas assembléias de eleitores em Iowa, confirmada na madrugada de ontem, colocou o senador negro Barack Obama em rota direta de confronto com sua principal rival no Partido Democrata, a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton.
Elevando o tom da disputa, Obama deixou claro, após os resultados, que abusará da carta da "esperança de mudanças" -ao que Hillary respondeu com o velho trunfo da experiência e com alusões a seu favoritismo pelo país.
"Estamos escolhendo a esperança em vez do medo", disse Obama, 46, no primeiro discurso após largar na frente na corrida presidencial. Ele venceu com 38% da preferência dos que votaram em Iowa.
Já Hillary, 60, que amargou o terceiro lugar, com 29%, tratava de reavivar o sentimento de medo da inexperiência do rival. Ao lado do marido e ex-presidente, Bill Clinton, ela disse que "é preciso escolher alguém que possa vencer as eleições" presidenciais em novembro.
No Partido Republicano, o vencedor da disputa de quinta-feira foi o ex-governador do Arkansas e ex-pastor Mike Huckabee, com 34% da preferência, embalado pelo voto evangélico. Ele foi seguido pelo ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, que obteve 25%.

Argumento enfraquecido
Contra uma rival tida como polarizadora, Obama também jogou o argumento da "unidade" do país e do eleitorado.
Quando o senador prometeu "uma nação menos dividida" no discurso de vitória, estava celebrando a estratégia vitoriosa de atrair eleitores independentes, o que lhe garantiu a liderança inicial e será decisivo em novembro. "Neste momento decisivo na história, vocês fizeram o que os cínicos disseram que nunca poderia ser feito", disse o primeiro presidenciável negro com chances reais.
Mesmo com o peso quase desprezível de Iowa no número de delegados na Convenção Nacional Democrata (57 entre 2.500 que indicarão o vitorioso, em agosto), os candidatos ganham em atenção da mídia.
A visibilidade (em quantidade e qualidade) é fundamental para chegar forte à Superterça, no dia 5 de fevereiro, quando mais de 20 Estados (alguns de grande peso, como Nova York e Califórnia) escolhem seus candidatos favoritos.
O analista político Roger Simon, que edita coluna sobre as eleições no site "Politico.com", afirma que o resultado de Iowa faz com que a disputa se feche entre Obama e Hillary. Ele diz que o segundo lugar do democrata John Edwards em Iowa (30%) não deverá embalar sua candidatura.

Mudança
"Nós vamos consertar o mundo. Se você acreditar. Vamos mudar o mundo", diz Obama em seus discursos, nos quais seus assessores e voluntários focaram com mais força no eleitorado jovem, enquanto Hillary tentava convencer especialmente as mulheres mais velhas a influenciar o voto e o comparecimento da família.
Na análise do jornal "The New York Times", a estratégia central de Hillary "em grande parte de 2007 era aparecer como a indicação inevitável, mas o povo de Iowa não a via dessa forma". "Ela tentou convencer eleitores nas últimas semanas de que uma outra administração Clinton poderia ser agente de mudança, mas as pessoas em Iowa claramente não compraram essa idéia."
Um dos pontos altos da mudança proposta pelos candidatos é o reposicionamento dos EUA na política internacional. De olho em New Hampshire, que promove suas primárias na próxima terça, Obama mandou o recado no discurso de vitória: "Eu vou ser o presidente que ganhará a guerra no Iraque e trará nossas tropas de volta".
A largada na disputa democrata fez dois pré-candidatos desistirem. O senador Christopher J. Dodd, de Connecticut, com mais de 30 anos de experiência como legislador, e o também senador Joseph R. Biden Jr., de Delaware, declararam que encerraram no Estado sua campanha. Resta agora a expectativa a respeito de quem os desistentes apoiarão.


NA INTERNET - Leia a íntegra dos discursos de Hillary, Obama e Edwards na Folha Online
www.folha.com.br/080042



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