São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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Ação terrestre mata civis, narram habitantes de Gaza

Pessoas com membros decepados mas sem lesões letais são barradas em hospitais

Divisão do território, cercos a campos de refugiados e telefonia precária provocam desinformação no dia em que mercado é alvejado

DA REDAÇÃO

A exemplo dos ataques aéreos que a antecederam, a incursão israelense que dividiu a faixa de Gaza ao meio durante o final de semana gerou um alto número de baixas entre os civis palestinos. Ontem, além de mesquitas e residências, houve ataques também contra o principal mercado da região, na Cidade de Gaza -elevando acima de 500 o número de palestinos mortos desde o início da ação de Israel, que registrou cinco mortes no mesmo período.
"Quantos bebês inocentes, crianças e civis mais têm que morrer antes de o Conselho de Segurança erguer a mão por uma resolução de paz?", indagou Chris Gunness, da agência humanitária da ONU.
Ele relatou que pacientes com ferimentos não-letais -incluindo gente que teve membros decepados durante os ataques- eram mandados de volta para casa por falta de leitos e médicos em Gaza, cujas autoridades contabilizaram 64 civis mortos pela ação terrestre, que destruiu casas, motivando centenas de desabrigados a buscarem ajuda da ONU.
Na Cidade de Gaza, moradores contaram que a investida terrestre piorou as já combalidas operações de linhas elétricas, cabos telefônicos, saneamento básico e abastecimento de água. Antes da invasão, bombardeios israelenses, sob alegação de visar alvos do Hamas, atingiram prédios e infraestrutura públicos dos palestinos.
Ontem, a empresa que opera os telefones na faixa de Gaza alertou que a região pode perder contato com o mundo exterior em razão dos ataques, destacando que 90% do serviço de telefonia celular já parou.
Esse quadro, aliado ao fato de existirem regiões cercadas pelos militares acirra a desinformação dos civis. O correspondente da emissora britânica BBC na área, por exemplo, narrou não ter conseguido contato com parentes no campo de Jabaliya para indagar sobre um morador, um de seus primos, cuja morte havia sido noticiada antes numa rádio local.
Sua dúvida não foi a única sem resposta ontem. "É comida. O que mais podemos fazer?", perguntou o palestino Lubna Karam no que sobrou de sua casa em Gaza antes de abrir uma lata de feijão, o único alimento que conseguiu prover para sua família de dez pessoas. Eles estão sem luz e sem gás de cozinha há uma semana e têm dormido no frio, pois as janelas da residência foram destruídas pelos bombardeios.
No sul da faixa de Gaza, que não foi palco de ação terrestre ontem, o refugiado Anas Mansour, morador do campo de Rafah, questionou vizinhos, que colocaram o que tinham numa carroça e partiram: "Para onde podemos ir? É tudo igual". Mesmo assim, ele disse que tem dormido sempre vestido e com os documentos no bolso, caso precise sair rapidamente de casa em emergência.
Como o bloqueio à faixa de Gaza impede a entrada de jornalistas, os relatos provenientes da área palco do conflito são de moradores da região que lá estavam antes do fechamento das fronteiras do território palestino com Israel.

Com agências e "Financial Times"



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