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ENTREVISTA
EYAL ZISSER
Israel sabe que derrubar Hamas não é realista
País quer cessar-fogo com supervisão internacional como no Líbano, diz analista
"O importante é saber se o poder de dissuasão de Israel saiu fortalecido, e a ofensiva militar serviu para isso",
diz professor de Tel Aviv
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)
A intransigência do Hamas,
que não dialoga com Israel nem
reconhece seu direito de existir, tornou a ofensiva em Gaza
inevitável. A opinião é de Eyal
Zisser, para quem Israel gostaria de tirar o grupo do poder,
mas sabe que isso exigiria a indesejável reocupação de Gaza.
FOLHA - Entre os supostos objetivos de Israel nesta ofensiva, há um
declarado, a suspensão dos disparos
de foguetes de Gaza, e um não-declarado, que é derrubar o Hamas.
Ambos parecem inalcançáveis.
Quais as metas realistas?
EYAL ZISSER - Reocupar a faixa
de Gaza é possível, mas isso não
interessa a Israel. O objetivo da
ofensiva é obter um acordo de
cessar-fogo como no Líbano
[em 2006], para colocar um fim
ao disparo de foguetes. Isso incluiria algum tipo de supervisão internacional que impeça o
disparo de foguetes e também
controle a fronteira de Gaza
com o Egito, para não permitir
a entrada de armas.
Acho que Israel gostaria de
tirar o Hamas do poder, mas
entende que esse não é um objetivo realista. Para derrubar o
Hamas, é preciso não apenas
entrar em Gaza. É necessário
controlar o território, o que Israel não quer voltar a fazer.
FOLHA - Qual será o impacto dos
ataques sobre o Hamas?
ZISSER - O Hamas sofreu um
golpe muito duro e acho que
aprendeu uma lição, mas não
foi destruído. O resultado é que,
no futuro, será mais cuidadoso
em seu confronto com Israel.
Nada além disso.
FOLHA - Israel corre o risco de obter
justamente o oposto, fortalecendo
o Hamas politicamente, como ocorreu com o Hizbollah no Líbano?
ZISSER - Sim, isso é o que sempre acontece nesse tipo de confronto, e só não se repetirá agora se o Hamas não conseguir
sobreviver. E não vejo, no momento, uma alternativa com
credibilidade, então a população continuará apoiando o Hamas. Mas é preciso lembrar
também que esse é um fortalecimento ilusório.
No Líbano, o Hizbollah sofreu sofreu grandes perdas.
Grupo nenhum escapa ileso de
mais de um mês de ataques. Foi
enfraquecido, mas conseguiu
vender a idéia de que ficou mais
forte. Na situação atual de Gaza, deve acontecer a mesma
coisa: aconteça o que acontecer, o Hamas cantará vitória.
O importante é saber se o poder de dissuasão de Israel saiu
fortalecido, e eu acho que, tanto
no Líbano como em Gaza, a
ofensiva militar israelense serviu para isso. Então, quem exatamente saiu fortalecido?
FOLHA - O governo israelense afirma que o objetivo da ofensiva em
Gaza é estabelecer uma "nova realidade". Isso significa um novo cenário político?
ZISSER - Depois de oito anos de
disparos, se houver calma no
sul de Israel e o Hamas não ousar fazer provocações, lançar
mais foguetes, essa será uma
nova realidade. Ainda é cedo
para dizer se ela incluirá um
novo cenário político. Se a
ofensiva fosse interrompida
agora, sem dúvida o Hamas sobreviveria. Numa visão mais
abrangente, incluindo outros
inimigos, como Irã e Síria, não
vejo mudanças. Mas o fato de os
regimes árabes silenciarem sobre a operação israelense significa que a maioria apóia Israel
contra o Hamas.
FOLHA - O primeiro-ministro Ehud
Olmert disse que a ofensiva era inevitável. Mas, olhando para os últimos três anos, desde a eleição do
Hamas, Israel não poderia ter agido
para evitar essa escalada?
ZISSER - Não era possível evitar
por um motivo simples: o Hamas se recusa a dialogar com
Israel e a reconhecer o seu direito de existência. Foi essa intransigência que levou à escalada atual.
FOLHA - Não está claro se Israel
tem um plano político para o pós-guerra. Qual deveria ser a estratégia
política israelense após a ofensiva?
ZISSER - Não sei se Israel tem
um plano, mas sinceramente
espero que sim. Na minha opinião, o plano político deve estar
casado com o plano militar. O
objetivo deve ser chegar a uma
situação em que o Hamas esteja
suficientemente enfraquecido
para que possa haver um acordo, com a ajuda da comunidade
internacional, em que o grupo
não queira e não possa disparar
mísseis contra Israel. Depois
disso, a condição básica para
que Israel possa entrar em negociações com o Hamas é que o
grupo reconheça seu direito de
existir. Mas isso não parece estar nos planos do Hamas.
FOLHA - Há sinais de que o Hamas
poderia voltar a se unir ao Fatah para obter trégua e dialogar com Israel
indiretamente. O Fatah, mesmo
sendo aliado de Israel, teria legitimidade para unir os palestinos?
ZISSER - Nenhum regime árabe
é legítimo, a questão é se ele é
forte. Se o Fatah servir de interlocutor confiável para os
dois lados e conseguir passar a
imagem entre os palestinos de
que salvou a faixa de Gaza do
caos, talvez isso seja possível.
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