São Paulo, terça-feira, 05 de janeiro de 2010

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Norma aérea dos EUA desafia liberdades civis

Na prática, autoridades vão discriminar os viajantes conforme seu país de origem ou de acordo com os países visitados

Ministra nigeriana reclama de "incriminação de 150 milhões" de compatriotas em reação a ataque a voo pretendido por um deles

Anjum Naveed/Associated Press
Segurança checa passageiro no aeroporto de Islamabad; lista de países sujeitos a novas normas de voo para os EUA inclui o Paquistão

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O primeiro dia de aplicação das novas regras de revista de passageiros anunciadas pelos EUA foi de dúvidas nos aeroportos e discussões sobre os limites entre segurança e liberdades civis. O governo anunciou que cidadãos de 14 países deverão ser submetidos por tempo indeterminado a uma revista mais minuciosa do que o dos demais passageiros.
Na prática, os EUA vão discriminar os viajantes conforme seu país de origem ou de acordo com os países visitados.
A lista tem quatro países considerados por Washington como patrocinadores do terrorismo: Cuba, Irã, Sudão e Síria. Os outros dez são países considerados "de interesse": Afeganistão, Argélia, Líbano, Líbia, Iraque, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Somália e Iêmen.
Passageiros com passaportes destes países ou em voos originados ou que passaram por eles em direção os EUA serão automaticamente submetidos a revista corporal e terão sua bagagem de mão inspecionada.
Caso o aeroporto disponha do equipamento, passarão por um scanner corporal.
Segundo a TSA (autoridade americana de segurança nos transportes), os demais passageiros poderão ser submetidos a revistas mais minuciosas de forma aleatória, bem como viajantes considerados suspeitos.
Caberá ao comandante do avião decidir se os passageiros devem ficar sentados na última hora de voo e se podem usar aparelhos eletrônicos.
Na Europa e no Oriente Médio, diversos aeroportos ainda não adotavam os novos procedimentos ontem.
A ministra de Informação e Comunicação da Nigéria, Dora Akunyili, questionou a inclusão do país na lista. "É injusto discriminar 150 milhões de nigerianos por conta do comportamento de uma única pessoa", afirmou, em referência a Umar Farouk Abdulmutallab, o jovem nigeriano de 23 anos que tentou se explodir dentro de um voo americano rumo a Detroit no Natal.
Para Edward Alden, autor do livro "O Fechamento da Fronteira Americana" ("The Closing of the American Border"), a medida é ineficaz e fere os interesses americanos. "Basta dizer que, se tivéssemos colocado esse sistema em vigor no dia 24 de dezembro, a Nigéria não faria parte da lista e Abdulmutallab não teria sido pego."
Questionado pela Folha se todos os países listados representam ameaça aos EUA, Jeffrey Addicott, diretor do Center for Terrorism Law, diz que ela inclui também países com conexões com outras nações que têm relação pouco amigável com os EUA e que poderiam ser usados como escalas.
"A medida é um passo em direção à invasão de liberdades civis. A ênfase do trabalho de inteligência deveria ser antes da chegada ao aeroporto".
Desde o ataque frustrado no Natal, dezenas de nomes foram incluídos nas listas de observação e de passageiros que não podem voar para os EUA.
Anteontem, o aeroporto internacional de Newark teve um terminal fechado e atrasos de mais de seis horas nos voos porque um homem entrou na área de embarque sem passar pela revista.



Leia coluna de Clóvis Rossi sobre combate ao terror

www.folha.com.br/100044




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