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ANÁLISE
Prosperidade não barra avanço da direita
LUCAS DELATTRE
do "Le Monde"
A Áustria é "um dos países mais
ricos, mais estáveis e mais privilegiados em matéria de assistência
social da União Européia", afirmou Wolfgang Schuessel, o novo
chanceler (premiê), numa entrevista à revista "News".
A renda per capita do país é
uma das mais altas do continente.
Numa escala na qual o índice 100
representa a média européia, a
Áustria alcança 112, a Alemanha,
108, e a França, 104. O desemprego atinge 4,4% de sua população
economicamente ativa (menor só
em Luxemburgo e na Holanda), e
seu PIB (soma das riquezas produzidas no país) deve crescer
2,8% em 2000.
Qual é a razão, então, da ascensão de Joerg Haider? Esse paradoxo surpreendente prova que a
prosperidade não corresponde
obrigatoriamente à realização coletiva de uma nação. O mal-estar
austríaco não está atrelado a parâmetros econômicos básicos, como a evolução do poder de compra ou o nível de desemprego.
Seria tudo um acidente histórico? Com certeza, não. No caso de
novas eleições, o Partido da Liberdade provavelmente receberia
mais votos que os 27% das últimas eleições de outubro.
A ascensão do PL se deve ao
cansaço em relação aos partidos
tradicionais (conservadores, do
Partido Popular, e social-democratas), que formavam a coalizão
que estava no poder desde 1986.
Os austríacos perderam a confiança nos dirigentes tradicionais.
"Eles têm medo do exterior, da
globalização e da abertura da UE
para países do Leste Europeu",
disse Gunther Tichy, pesquisador
da Academia de Ciências de Viena, ao jornal "Der Standart".
Por várias décadas, a Áustria viveu protegida de conflitos sociais,
graças ao seu sistema de parceria
de sindicatos e patrões, e dos países da Europa Oriental, graças à
Cortina de Ferro. Tudo isso está
mudando, e a mensagem de Haider é: "não tenho medo de nada."
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