São Paulo, #!L#Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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FANTASMA EXTREMISTA
Estrangeiros dizem ter medo de aumento de ataques e de restrições para trabalhar na Áustria
Posse provoca temor entre imigrantes


do enviado especial

A chegada de um partido com plataforma antiimigração ao governo austríaco está colocando em alerta máximo os quase 1 milhão de estrangeiros residentes no país, que integram a população de cerca de 8 milhões de pessoas.
Por sua posição geográfica, a Áustria é uma "porta de entrada natural" da União Européia para imigrantes do Leste Europeu.
Alguns austríacos temem que eles "invadam" o país assim que seus Estados de origem aderirem à UE, o que deve começar a ocorrer a partir de 2002.
Comunidades de africanos, russos e asiáticos também têm crescido, o que reforçou sentimentos xenófobos e ajudou a levar o Partido da Liberdade a expressiva votação nas eleições de outubro.
Apesar de o desemprego se manter abaixo de 5%, os imigrantes são vistos, especialmente em pequenas cidades e áreas rurais, como pessoas que "roubam" trabalho dos austríacos.
O garçom Ivan Jurica, 27, chegou a Viena há cinco anos, vindo de Bratislava, capital da Eslováquia, que fica a cerca de 45 minutos de viagem de trem.
"Pretendia ficar pelo menos mais cinco anos na Áustria, mas agora não sei se isso será possível. Tenho de renovar meu visto de trabalho a cada ano e temo que o governo passe a negar isso. Estou pensando em ir embora de uma vez", disse Jurica, que imigrou porque não conseguia encontrar trabalho em seu país de origem.
O senegalês Issa Ndiath, 30, que mora na Áustria há seis anos, teme ser vítima de novos ataques neonazistas. "Já fui espancado duas vezes por eles. A polícia austríaca nunca fez nada para me ajudar. Tenho certeza que, a partir de agora, sob o comando de um governo extremista, vai fazer ainda menos", diz.
Ele reclama que não consegue permissão para trabalhar, tendo de depender de dinheiro enviado por sua família no Senegal.
Já a filha de filipinos Marisa Somera conta que sua mãe está "em pânico" desde o anúncio do novo governo. "Estou tentando acalmá-la, dizendo que não há o que temer, mas ela acha que a situação vai ficar pior. Perdi a conta de quantas vezes a vi chegar em casa chorando, porque foi xingada."
Imigrante da Romênia, o metalúrgico Vassile Biderman, 27, acha injustificado o temor dos austríacos. "Os países do Leste Europeu só vão entrar na UE quando estiverem preparados. Não haverá invasão de imigrantes, como não houve quando Portugal e Espanha aderiram."
Mas há imigrantes que defendam as posições da direita. "Não é possível deixar a porta aberta para sempre. Se não houver restrições, o país entrará em colapso", disse um iraniano, que não quis se identificar. (FÁBIO ZANINI)


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