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ÁSIA
O "pai" da bomba atômica do país afirma que repassou dados à Coréia do Norte, ao Irã e à Líbia sem conhecimento do governo
Paquistanês diz que vazou segredo nuclear
DA REDAÇÃO
O "pai" da bomba nuclear paquistanesa, Abdul Qadeer Khan,
assumiu publicamente a responsabilidade por vazamentos de segredos nucleares para outros países e disse que tudo foi feito sem
que o governo, controlado pelos
militares, soubesse.
Em pronunciamento veiculado
ontem pela TV estatal, ele pediu
perdão ao ditador paquistanês,
general Pervez Musharraf, com
quem havia se reunido pouco antes, e à população.
"Decidi aparecer diante de vocês para oferecer meu profundo
arrependimento e desculpas ilimitadas a uma nação traumatizada", disse Khan. "Assumo total
responsabilidade por minhas
ações e peço perdão."
Khan admitiu ter repassado tecnologia nuclear para a Líbia, o Irã
e a Coréia do Norte. Os últimos
dois países integram o chamado
"eixo do mal", termo criado pelo
presidente americano, George W.
Bush, para reunir os países do
mundo que, segundo os EUA, estariam desenvolvendo armas de
destruição em massa. O Iraque integrou o "eixo" até a queda do ditador Saddam Hussein, em abril
de 2003.
Khan é um herói nacional no
Paquistão por ter desenvolvido,
nos anos 70, a primeira bomba
atômica do mundo islâmico. Para
o Paquistão, obter capacidade nuclear também foi crucial devido
ao conflito com a vizinha Índia,
que possui a bomba atômica.
A admissão pública de Khan parece atender a dois objetivos.
Primeiro, o governo se veria numa situação difícil se tivesse de
processar o "pai" da bomba atômica do país. Ao pedir desculpas,
permite uma saída honrosa. Ontem mesmo, Musharraf se reuniu
com a cúpula militar para debater
o pedido de desculpas.
Em segundo lugar, ao assumir
toda a culpa, Khan "absolve" o
governo e o Exército, que não
querem se indispor com os EUA.
Desde o 11 de Setembro, o Paquistão tornou-se um dos principais aliados dos EUA na guerra
contra o terror, facilitando a intervenção militar no vizinho Afeganistão (2001). Antes, apoiava o
Taleban, milícia extremista islâmica que controlava o Afeganistão e dava refúgio à rede Al Qaeda, responsável pelos atentados.
Khan é foco de uma investigação interna desde novembro,
quando o Irã disse à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), ligada à ONU, ter obtido
tecnologia nuclear do Paquistão.
No mês passado, Musharraf admitiu que "indivíduos" venderam
segredos nucleares paquistaneses
a outros países nos anos 80.
"Também quero esclarecer que
nunca houve nenhum tipo de autorização do governo para essas
atividades", disse Khan, que perdeu seu cargo de assessor especial
de Musharraf e está sob vigilância.
Outros seis cientistas e funcionários do governo estão detidos.
Em Washington, o porta-voz da
Casa Branca, Scott McClellan, evitou comentar a fala de Khan.
"Apreciamos os esforços [do Paquistão] de enfrentar uma questão tão séria como a proliferação
das armas de destruição em massa pelo mundo", disse.
Críticos do governo dizem que
Khan está sendo usado como bode expiatório. "O governo insultou Abdul Qadeer Khan ao forçá-lo a ler a declaração na TV", disse
Shahid Shamsi, porta-voz de um
importante partido islâmico, que
exigiu a apresentação de provas
contra o cientista.
Os islâmicos, influentes no país,
convocaram um dia de protesto
para amanhã.
Com agências internacionais
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