São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2007

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Chávez celebra golpe frustrado de 1992 com 10 mil nas ruas

Presidente venezuelano, que tentou destituir o governo de Carlos Andrés Pérez, se diz "filho do raio que dividiu o país'

Companheiros da época, como atual embaixador do país na ONU, apareceram em uniforme militar; marcha foi transmitida por TV e rádio

Francesco Spotorno/Reuters
Manifestantes empunham boneco gigante de Chávez em manifestação que atraiu quase 10 mil


DA REDAÇÃO

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, comandou ontem um desfile cívico-militar em comemoração do aniversário de um golpe que liderou em 1992 contra o então presidente Carlos Andrés Peréz. Vestindo vermelho e gritando "o povo unido jamais será vencido", 9.800 chavistas -de acordo com dados militares- acompanhavam o mandatário.
"Após 15 anos, aqui estamos nós: o povo e os soldados juntos", disse Chávez em seu discurso. Também usou uma frase que ficou famosa na boca de seu aliado Fidel Castro: "A história nos absolverá". Na sexta-feira, ele havia dito que celebraria os 15 anos "daquele raio que partiu a história da Venezuela em duas". "Sou filho daquele raio."
O presidente continuou: "Os soldados comprometidos estamos com o povo na construção do socialismo bolivariano do século 21, único caminho para tornar realidade os sonhos mais sublimes de nossa pátria".
Um manifestante -chamado de homem invisível, por sua capacidade de se infiltrar em outros atos oficiais- foi retirado de trás de Chávez por forças de segurança. Ele gritava, mas não foi possível escutar o que.
O vice-presidente Jorge Rodríguez afirmou que a data é celebrada por marcar "o nascimento da esperança". "O vento da liberdade daquele 4 de fevereiro semeou todos os cantos da pátria, e a pátria que temos agora é conseqüência das lutas populares que ocorreram ao fim das décadas de 80 e de 90."
A marcha cruzou Caracas até atingir o forte Tiuna, sede do ministério da Defesa, onde encontrou soldados prontos para um desfile. Com seu uniforme verde, a faixa presidencial e a já tradicional boina vermelha, Chávez chegou em um carro aberto, de onde saudava os espectadores. A marcha foi transmitida por rádio e televisão.
O presidente também conversou com oficiais da Força Armada Nacional e com ex-companheiros do golpe, entre eles Francisco Arias Cárdenas, atual embaixador da Venezuela na ONU. Cárdenas também vestia uniforme militar.
Um homem carregava um pôster onde se lia: "Revolução, sim! Imperialismo, não!" Dezenas de chavistas dançavam atrás de um caminhão de som -o refrão mais tocado era "Não queremos gringos aqui".
A festa contou com aviões comprados da Rússia recentemente, enquanto soldados desfilavam ao lado de tanques.
"Aplaudimos a rebelião liderada por Chávez", disse o funcionário público municipal Gregorio Muñóz, 34. "Ele deu ao povo esperança de mudanças e, agora, está mudando nosso país pelo socialismo."
A secretária Anita Colmenares, 45, disse que Chávez "tenta transformar um evento trágico em algo grandioso". Ao assistir à marcha de longe, opinou: "Está levando o país ao precipício".

15 anos antes
Mais de 80 civis e 17 soldados -os dados oficiais dizem que foram 14 pessoas- morreram no dia 4 de fevereiro de 1992 quando tropas leais a Carlos Andrés Peréz enfrentaram manifestantes liderados por Chávez, que acabou preso.
Depois de fracassar, o então tenente-coronel foi à TV dizer que, até aquele momento, não havia obtido poder, mas que continuaria em sua busca. Em 1994, o presidente Rafael Caldera determinou sua libertação. Chávez viajou pela Venezuela e ganhou o apoio que o levou à Presidência em 1999.
Chávez celebra o aniversário do golpe todos os anos desde que assumiu como presidente. A oposição acusa o governo de dar aos participantes transporte, camisetas e comida.
Para o ministro de Agricultura e Terras, Elías Jaua Milano, o dia 4 de fevereiro de 1992 "marcou o início da unidade popular baseada na necessidade de resgatar a pátria, resgatar a soberania nacional e libertar o povo da pobreza". "O povo está na rua, uma força armada cada vez mais compenetrada com o objetivo da revolução social, econômica e política que estamos levando adiante."


Com agências internacionais


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