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Brasil quer que Turquia receba urânio do Irã
Possibilidade de que o próprio Brasil seja o depositário do estoque iraniano não está descartada, mas não é a preferida do Itamaraty
Chancelaria acredita que papel brasileiro pode ser mais de interlocução, devido
a relações próximas com Teerã e potências do P5+1
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de ser aventado publicamente pelo Irã como possível eixo de um acordo patrocinado pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) pelo qual Teerã enviaria seu
urânio pouco enriquecido para
o exterior e receberia o elemento com o nível de enriquecimento adequado para fins medicinais, o Brasil trabalha para
que a Turquia seja depositária
do urânio iraniano, como uma
forma de atender à demanda de
Teerã de garantia de que o material será devolvido.
A ideia de que o Brasil possa
ser depositário do urânio iraniano não é descartada, mas
não é a preferência do Itamaraty. Já a possibilidade de o país
enriquecer urânio para o Irã
nunca foi cogitada nas conversações entre os dois países, afirma a assessoria do chanceler
Celso Amorim.
A ideia brasileira é que, após
a escala na Turquia, o enriquecimento seja feito principalmente pela Rússia, como previa
a proposta original do P5+1,
grupo que reúne as cinco potências com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, França, Reino Unido e China) mais a
Alemanha e lidera as negociações sobre o programa nuclear
iraniano.
A proposta de que o Irã entregue 85% do seu estoque de
urânio com enriquecimento de
3% a 5%, usado em usinas de
energia, para ser enriquecido
no exterior a 20%, nível exigido
na utilização médica, foi feita
em 2009 por intermédio da
AIEA.
A sugestão partiu do P5+1,
depois que o Irã pediu autorização à AIEA para repor o combustível do reator de Teerã que
produz isótopos médicos. O objetivo do grupo é impedir que o
país tenha estoque de urânio
suficiente para enriquecimento a 90%, necessário para produzir a bomba.
O Irã teve reação inicial positiva, mas em seguida recuou,
argumentando temer que seu
urânio não fosse devolvido. As
potências ocidentais passaram
então a cogitar novas sanções
contra Teerã.
Nesta semana, o presidente
Mahmoud Ahmadinejad voltou a afirmar que está disposto
a enviar o urânio ao exterior.
EUA e aliados veem a declaração como parte de manobras
protelatórias iranianas, e pedem que o país formalize sua
intenção na AIEA.
Até ontem, isso não havia sido feito pelo embaixador iraniano na agência, Ali Asghar
Soltanieh. Ele disse, no entanto, que não deveria haver "prejulgamentos", já que Ahmadinejad "mostrou que o Irã tem a
vontade política de facilitar a
cooperação, em lugar da confrontação".
A Turquia, que é membro da
Otan (aliança militar ocidental), vem nos últimos anos ampliando relações com seus vizinhos no Oriente Médio. A ideia
de que atue como intermediária entre Irã, Rússia e França,
outra possível enriquecedora
do urânio iraniano, é cogitada
desde novembro.
Anteontem, Amorim falou
por telefone sobre o tema com
o ministro do Exterior turco,
que ontem recebeu em Ancara
o chanceler iraniano, Manoucher Mottaki -que por sua vez,
se reunira na semana passada
em Davos com Amorim. O
chanceler brasileiro crê que pode ter um papel de interlocução
porque o Brasil tem a confiança
dos iranianos e boas relações
com EUA e aliados.
As novas sanções cogitadas
por EUA, França e Reino Unido
têm pouca chance de aprovação no Conselho de Segurança,
em especial devido às rusgas
entre EUA e China, por sua vez
cliente do petróleo iraniano.
O voto da Rússia seria mais
imprevisível. Embora coopere
com o Irã na área nuclear civil,
Moscou está em fase de recomposição da relação com os EUA,
após Washington cancelar projeto de instalação de sistema
antimísseis no Leste Europeu.
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