|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO NOS EUA
Desafio do próximo presidente será controlar o ritmo da expansão econômica norte-americana
Depois de Clinton
Na próxima terça, primárias simultâneas em 13 Estados devem definir os candidatos dos partidos Republicano e Democrata à sucessão presidencial norte-americana
MARCIO AITH
de Washington
Os EUA que o presidente Bill
Clinton deixará para seu sucessor
são uma superpotência econômica e militar mais sólida que há oito anos, hegemônica no mundo,
mas que se sustenta num frágil
equilíbrio, capaz de se desfazer no
primeiro erro de governo.
Esse é o consenso entre analistas que, a menos de um ano do final da era Clinton e em plena
campanha eleitoral para sua sucessão, tentam entender as mudanças havidas no país desde 92.
"Quando Clinton assumiu, os
EUA eram um gigante em recessão e com um dilema político. Havia ganho a Guerra Fria, mas não
sabia o que fazer com essa vitória.
O próximo presidente herdará
um país rico, crescendo e, agora,
com dois dilemas. Não sabe o que
fazer com sua hegemonia nem
como controlar sua expansão
econômica", disse Stephen Hess,
pesquisador do Instituto Brookings, em Washington.
O maior risco para o próximo
presidente está no campo econômico. Na era Clinton, o PIB dos
EUA cresceu ininterruptamente.
Em janeiro, os EUA atingiram sua
mais longa era de expansão em
toda a história, ultrapassando o
período de 1961-1969, durante a
Guerra do Vietnã.
Caso essa trajetória se mantenha até o final do ano, caberá ao
próximo presidente decidir como
reduzir sua velocidade, para preservá-la sem destruí-la. Ou, nas
palavras dos economistas, permitir um "soft landing" (pouso suave), impedir um crash que leve o
país novamente à recessão.
Um dos dois principais instrumentos para garantir o "soft landing" não está nas mãos do presidente, mas sim do Fed (o banco
central norte-americano), a quem
cabe aumentar os juros no país,
reduzindo a disponibilidade da
moeda e o índice de crescimento.
O outro instrumento está nas
mãos do presidente: como usar o
superávit orçamentário do país,
de quase US$ 3 trilhões nos próximos três anos.
O presidente do Fed, Alan
Greenspan, pede que o próximo
presidente não coloque em risco o
equilíbrio das contas públicas
conquistado por Clinton. Ele quer
que o superávit seja usado para
pagar a dívida pública dos EUA, a
maior do mundo. "Tomar outra
medida pode enviar uma mensagem errada aos mercados", disse
ele num depoimento no Senado
na semana passada.
Candidatos como o republicano
George W. Bush, no entanto, pregam que o dinheiro volte para os
contribuintes por meio de cortes
de impostos.
"Não é o momento para cortes
de impostos", disse Clinton numa
entrevista recente. "Conquistamos um orçamento equilibrado.
Estamos perto de conquistar o
que era inconcebível até alguns
anos atrás: transformar os EUA
num país sem dívidas pela primeira vez desde que Andrew
Jackson foi presidente em 1835."
Mas há outros desafios na área
econômica, como o de democratizar esse crescimento. Apesar do
"boom" da economia norte-americana, a desigualdade social aumentou na era Clinton. O crescimento foi benéfico às classes menos favorecidas, mas a diferença
de renda entre os mais ricos e os
mais pobres aumentou.
Na última década, os 20% que
formam o grupo de famílias mais
pobres dos EUA perderam US$
587 em seu poder de compra
anual. Nesse período, os 5% que
compõem o grupo de famílias
mais abastadas adicionaram US$
29 mil a seu orçamento anual.
Na década de 60, os mais altos
executivos ganhavam 41 vezes
mais que um trabalhador médio.
Em 1998, essa diferença aumentou para 190 vezes.
Clinton defende-se dizendo que
o desemprego entre negros e hispânicos caiu quase que pela metade. Cerca de 13% dos negros estavam desempregados quando
Clinton assumiu. Agora, são apenas 8,5%. O desemprego entre a
população branca de origem européia é inferior a 3%.
No campo externo, o dilema parece ser o mesmo da década passada. Segundo o cientista político
Samuel Huntington, de Harvard,
o governo norte-americano não
entendeu ainda o significado de
ser um poder hegemônico num
mundo onde há outros poderes,
não tão fortes mas significativos.
"As autoridades norte-americanas tendem a agir como se o mundo fosse unipolar, como se os outros poderes fossem dispensáveis,
como se não fosse mais necessário buscar consenso", escreveu ele
num artigo recente.
Para ele, a suposição de que sua
agenda seria aceita pelo resto do
mundo, em qualquer situação, levou os EUA a se isolar em questões importantes, como as sanções contra Cuba, Irã e Iraque, o
banimento das minas terrestres e
a criação de um tribunal internacional para crimes de guerra.
Apesar do discurso de Clinton,
seu governo isolou o país em
questões importantes e num período em que a União Européia
cresce em importância e influência no mundo emergente.
A campanha eleitoral nos EUA
indica que esse isolamento pode
piorar caso um candidato republicano seja eleito. Bush propõe o
fim da política de aproximação
com Pequim. John McCain, o ex-prisioneiro da Guerra do Vietnã,
sugere a derrubada militar de regimes inimigos dos EUA.
Texto Anterior: Polícia reprime ato contra Pinochet Próximo Texto: Economia não garante vitória de Gore Índice
|