São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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ARTIGOS
O segundo século americano

JOHN MCCAIN

Em um mundo que mudou de forma extraordinária e na aurora do próximo século americano, os interesses estratégicos centrais dos Estados Unidos, assim como nossos ideais fundamentais, continuam sendo os mesmos de sempre: proteger nossa pátria e nosso hemisfério das ameaças externas, impedir a dominação da Europa por uma única potência, fortalecer nossas alianças, garantir o acesso aos recursos energéticos e sustentar a estabilidade da região do Pacífico.
Atualmente as ameaças mais imediatas são potencialmente menos catastróficas do que as da Guerra Fria. Mas o dano para nossos interesses e ideais é, com razão, mais iminente e mais provável em sua realização do que era um ataque em massa com mísseis balísticos intercontinentais naquela época.
Os ódios étnicos e religiosos, as expressões violentas de nacionalismo, a proliferação de armas de destruição em massa e dos meios para distribuí-las e o terrorismo internacional constituem um claro perigo atual.
A tarefa que enfrentamos é a de desenvolver políticas que se oponham às ameaças atuais de forma tão eficaz como a "grande luta no crepúsculo" que travamos durante todo o período da Guerra Fria e que construiu as bases seguras para impedir a longo prazo ameaças semelhantes às soviéticas de então.
A liderança dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) durante a Guerra Fria constituiu um êxito completo. Em muitos aspectos foi um sucesso mais difícil do que manter a solidez das alianças durante uma guerra quente. E mantê-la agora, enquanto a Otan cresce e se adapta a novas ameaças, somente parcialmente definidas, será sem dúvida um desafio ainda maior.
À medida que consolidamos a recente expansão da Otan e estudamos a possibilidade de admitir novos membros a fim de avançar em seus propósitos e de proteger seus interesses, devemos assegurar que os demais membros da organização se encarreguem de uma porcentagem justa dos custos e encargos.
O mesmo é certo no Leste da Ásia, onde nossas relações com o Japão, Coréia do Sul e outros países são fundamentais para a estabilidade da região. No caso do Japão, tanto Washington quanto Tóquio precisam prestar mais atenção aos aspectos estratégicos de sua relação especial.
Todos deveríamos trabalhar por um dia em que a Rússia seja pacífica, próspera e livre. Mas uma Rússia assim não existe ainda e negar que essa é a situação presente não fará com que nossas esperanças se tornem realidade.
Muitos de seus dirigentes asseguram ao povo russo que a democracia e o livre mercado provocaram a queda do país no caos. Nada está mais longe da verdade. A culpa na Rússia não é do fracasso do livre mercado e dos princípios democráticos, mas sim da corrupção destes por parte de líderes fracos, de nacionalistas belicosos e de aproveitadores cobiçosos.
Precisamos dizer claramente a Moscou que os Estados Unidos têm a intenção de apoiar somente reformas verdadeiras na Rússia: uma cultura democrática, o império genuíno da lei, do Estado de Direito e do livre mercado. E que não apoiamos os cleptocratas que manipulam irregularmente as privatizações.
Num futuro próximo, poderíamos enfrentar uma ameaça estratégica fundamentalmente nova: a chantagem nuclear contra um presidente norte-americano. Devemos agir imediatamente com nossos aliados da Ásia e da Europa para preparar a defesa contra este perigo.
Como presidente, enfatizaria igualmente a amigos e inimigos que a defesa com mísseis locais e estratégicos é agora uma prioridade nacional e não apenas outro programa do Pentágono.
Como presidente, estarei disposto a discutir com a Rússia se o Tratado de ABM (sobre mísseis antibalísticos) poderia ser modificado para permitir que nossos dois países possam responder à ameaça de mísseis de algum Estado perigoso.
Mas se essas conversações fracassarem, revogaria o tratado no momento em que ficasse claro que este não poderia ser modificado para enfrentar os riscos atuais.
O mesmo realismo é necessário em nossas relações com Pequim. A China preferiria que os Estados Unidos retirassem suas forças da Ásia, que puséssemos fim à nossa aliança estratégica com o Japão, que abandonássemos nosso compromisso com Taiwan e com a reunificação pacífica da China, que cessássemos todo apoio a uma mudança política democrática nessa nação e que ficássemos em silêncio quando manifestantes pacíficos fossem encurralados ou quando fosse destruída a cultura tibetana.


"Poderíamos enfrentar chantagem nuclear contra o presidente dos EUA"



Prestaríamos um serviço tanto para a China quanto para nós mesmos se desenganássemos Pequim sobre suas expectativas de que alguma dessas preferências seria satisfeita.
Eu apoio a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) e tenho esperanças, mas não cegas, de que sua integração na economia mundial debilite as restrições que Pequim impõe ao livre fluxo da informação no país e que este, por sua vez, acelere a maré da história que, cedo ou tarde, varrerá dali os últimos baluartes da tirania e do autoritarismo.
Um mundo em que nossos interesses estivessem mais bem assegurados e nossos ideais tivessem uma possibilidade realista de se converter em um credo universal era o principal objetivo da política externa norte-americana no século passado, e o cumprimos.
A melhor garantia de que o novo século expandirá e não reverterá as conquistas da humanidade no século 20 é a promessa de uma liderança mundial dos Estados Unidos e de seus princípios.


O senador John McCain é um dos candidatos à indicação pelo Partido Republicano para as eleições presidenciais dos EUA.




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