São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

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China eleva gasto militar; EUA reagem

Despesa com defesa sobe 17,8%, maior aumento em uma década, e atinge R$ 96,5 bilhões; Washington exige "transparência"

Pequim diz que aumento corrige baixos orçamentos anteriores e não é ameaça a nenhum país; Congresso do Povo será inaugurado hoje

Fotos Elizabeth Dalziel/Associated Press
Soldados patrulham a praça da Paz Celestial, em Pequim


DA REDAÇÃO

A China irá aumentar em 17,8% seus gastos militares em 2007, anunciou ontem o porta-voz do Congresso Nacional do Povo -o Parlamento chinês-, Jiang Enzhu.
Segundo ele, o orçamento previsto neste ano para o Exército Popular de Libertação será de 350,9 bilhões de yuans (R$ 96,5 bilhões), o que corresponde a um aumento de 53 bilhões de yuans (R$ 14,5 bilhões) em relação a 2006.
Para Enzhu, o aumento de gastos com defesa pela China -o maior dos últimos dez anos- se seguiu a vários anos de baixos orçamentos e não deveria ser entendido com uma ameaça a outros países.
"Nos anos recentes, a China aumentou regularmente os gastos com a defesa, baseada em seu desenvolvimento econômico", disse o porta-voz.
"A China não tem nem condições nem a intenção de entrar em uma corrida armamentista com país nenhum e não irá se constituir em uma ameaça a nenhum país", concluiu.
Mas suas afirmações não convenceram os EUA, que têm criticado seguidamente os gastos militares chineses, qualificando-os de opacos.
Ontem, o diretor de Inteligência Nacional dos EUA, John Negroponte, afirmou que não é o aumento dos gastos que preocupa Washington, mas a falta de clareza da China quanto a suas reais intenções para aumentar os gastos.

Transparência
"Acho que a questão que deveria chamar nossa atenção, no que diz respeito aos gastos militares e compras militares de vários tipos, deveria ser a transparência", disse Negroponte em uma coletiva de imprensa em Pequim.
Negroponte, que visitou o país ontem e anteontem, acrescentou que Washington não está satisfeito com o grau de detalhes que a China fornece de seus gastos militares.
Disse que os EUA querem entender melhor "o que a China tem em mente em relação a sua modernização militar, que doutrinas ela quer destacar e quais são suas intenções".
Analistas internacionais, contudo, estimam que o real gasto militar da China pode ser três ou mais vezes maior que a cifra oficial. Estima-se que haveria muito dinheiro envolvido em compras e desenvolvimento de armas, forças paramilitares e programas secretos não exibidos nas contas oficiais.
Em recente visita à Ásia, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, disse que o teste anti-satélite realizado recentemente e o incremento militar "não estavam de acordo com as declarações de Pequim sobre um crescimento pacífico".
O aumento foi anunciado dois meses após a China ter realizado um teste de mísseis anti-satélite, que provocou críticas dos EUA, Japão e Índia.
Para Enzhu, o gasto com defesa pela China é pequeno em relação ao dos EUA. "Comparado com outros países, especialmente com as maiores potências, o gasto da China é relativamente baixo", disse Enzhu.
A administração Bush requisitou US$ 484 bilhões (R$ 1,03 trilhão) para o Departamento de Defesa no próximo ano fiscal, que tem início em outubro.
Liao Xilong, que coordena o departamento de logística do Exército chinês, disse que o salto no orçamento foi uma necessidade, tendo em vista o período de incerteza internacional.
"O mundo nos dias de hoje não é muito pacífico. E, para manter a estabilidade e a integridade territorial, devemos aumentar de forma adequada os gastos", disse Xilong.
Xilong afirmou que é necessário mais dinheiro para investir em equipamentos de alta tecnologia, especialmente sistemas de comando, condução de complexos exercícios conjuntos e treinamento para guerra no caso de a comunicação eletrônica ser afetada.
O secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, disse que os EUA não devem fazer da China um inimigo, mas afirmou que Pequim deve reformar seu câmbio para resolver diferenças de curto prazo.
Paulson, que fez na semana passada sua terceira visita ao país, disse que é essencial que ambos os países negociem suas discordâncias para manterem seus laços econômicos fortes.
"Diria que nosso relacionamento com a China é multifacetado, e ele é muito importante para os EUA. Não acredito que devamos fazer da China um inimigo", disse Paulson.

Congresso do Povo
Começa hoje em Pequim o Congresso Nacional do Povo, que terá a participação de 3.000 delegado em duas semanas. Entre os temas discutidos estão direitos de propriedade, a pobreza na zona rural, poluição ambiental e medidas para reduzir a corrupção no país.


Com agências internacionais


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