São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

[!]Foco

Em talk-show com Giddens e Barber, Gaddafi rejeita a democracia

WILLIAM MACLEAN
DA REUTERS, EM TRÍPOLI

Muamar Gaddafi, o "showman" político de sempre, escolheu o talk-show como um novo meio de enviar uma mensagem ao Ocidente: reformas econômicas ajudarão a Líbia, mas mudanças políticas não são necessárias.
Na sexta passada, sentado ao lado de uma mesa diante da mídia internacional, o ditador afirmou -em um inesperado debate com dois pensadores ocidentais e um celebrado jornalista britânico- que a arena de votação não era coisa para seu país.
A globalização, contudo, pode ser um benefício econômico para uma Líbia estagnada economicamente, disse Gaddafi, que governa o país desde que chegou ao poder, em 1969, por meio de um golpe.
A gravação do debate será distribuída a TVs internacionais e colocada no site do governo líbio na internet.
Mas apesar das declarações pró-democracia dadas no ano passado por seu filho mais proeminente, Saif al-Islam, Gaddafi foi objetivo. "A democracia direta será, nos próximos anos, um modelo para outros países", afirmou o ditador aos cientistas políticos Benjamin Barber e Anthony Giddens, em discussão mediada pelo jornalista David Frost.

Limites
Observadores afirmaram que o evento mostrou tanto as possibilidades quando os limites das mudanças no país.
Se o debate fosse transmitido na Líbia, as imagens do debate poderiam provocar reivindicações pela livre expressão, em uma país cuja imprensa é controlada pelo Estado.
Gaddafi foi desafiado por Giddens e Barber em sua oposição à democracia.
"Tenho uma discordância básica em relação ao sr. Gaddafi", disse Giddens, usando uma linguagem jamais ouvida publicamente na Líbia.
Mas as edições de sábado dos jornais líbios destacaram apenas que Gaddafi, durante o evento, atacou a dominação ocidental do mundo e exortou o povo líbio a realizar treinamento militar para se preparar para a invasão de fora. Não havia palavra sobre o debate.
"É uma incompreensão comum de que reformas políticas e econômicas caminham lado a lado", disse o especialista em África do Norte George Joffe, da Universidade de Cambridge.
"O governo Gaddafi tornou-se mais sutil e tolera mais a variedade do que no passado. Mas os mecanismos básicos de controle permanecem."


Texto Anterior: Fogo cruzado mata 16 civis afegãos
Próximo Texto: Iraque: Ação militar conjunta visa bastião xiita
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.