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análise
Soberania se opõe a ataque "preventivo"
DA REDAÇÃO
O ataque militar da Colômbia ao acampamento
de Raúl Reyes na selva
equatoriana, sem autorização das autoridades de
Quito, traz à tona o debate
sobre a legislação internacional em matéria de soberania territorial e direito
de defesa, colocando em
lados opostos especialistas
consultados pela Folha.
O governo equatoriano
acusa a Colômbia de ter
infringido um princípio
elementar das normas legais internacionais -o do
respeito à integridade territorial, garantido pela
ONU- e retaliou rompendo as relações com Bogotá.
Bogotá considera que o
ataque foi um ato de defesa preventiva contra um
grupo que Estados Unidos
e União Européia, além da
própria Colômbia, classificam como "terrorista".
"Ataque preventivo" é o
conceito introduzido na
política mundial pela
"guerra ao terror" dos
EUA, já que o direito internacional e a ONU reconhecem o direito de defesa em caso de agressão ou
de agressão iminente (o
que é difícil de provar).
Para justificar a invasão
do território equatoriano,
o governo colombiano
vem citando as resoluções
1368 e 1373 do Conselho
de Segurança da ONU, que
ampararam legalmente,
em 2001, a ofensiva militar dos EUA no Afeganistão para enfrentar a ameaça terrorista da Al Qaeda.
A justificativa colombiana não se sustenta, na
opinião do especialista em
direito internacional Victor Bouissou. "Existe um
princípio elementar chamado soberania territorial", afirmou.
Para Bouissou, as resoluções nas quais a Colômbia busca se amparar estão
associadas apenas aos ataques de 2001 contra os
EUA. Além disso, ele ressalta que as determinações do Conselho de Segurança têm caráter "mais
político" do que legal.
Para o cientista político
Jorge Zaverucha, a Colômbia não infringiu a legalidade. "As resoluções já
não foram usadas e justificadas? A legislação está aí
para ser usada", defende,
argumentando que a guerra no Afeganistão e o ataque às Farc no Equador
seguem "a mesma lógica".
"Se você brigou com seu
irmão e ele usa a casa do
vizinho para atirar pedras
em você, você vai conversar com o vizinho. Se o vizinho não toma providência, você tem direito de
reagir", compara. O argumento do Equador é que
cabe à Colômbia zelar pelas suas fronteiras.
O uruguaio Juan Rial
rejeita os argumentos dos
dois lados. Para ele, não se
trata de um debate legal,
mas político. A crise, diz
Rial, resulta da convergência de três situações
internas nas quais os governantes buscam capitalizar o apoio da população.
"Uribe quer um terceiro
mandato, [o equatoriano,
Rafael] Correa prepara o
terreno para a Constituinte e [o venezuelano, Hugo]
Chávez está tentando
manter a popularidade."
"Acreditava-se que os
conflitos na América Latina eram internos, e eis que
nos deparamos com a possibilidade de um conflito
entre Estados", diz Rial
(SAMY ADGHIRNI)
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