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Nem desemprego recorde tira Zapatero da liderança
Dados de fevereiro elevam taxa ao nível mais alto do atual governo da Espanha
Eleitorado parece não sentir
a crise diretamente no
bolso, e primeiro-ministro
se mantém como favorito
para a eleição de domingo
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Saiu ontem, a cinco dias das
eleições espanholas de domingo, um número que, em tese,
demoliria as chances do candidato do governo, no caso o próprio presidente do governo espanhol, o socialista José Luis
Rodríguez Zapatero: 53.406
pessoas entraram para a lista
de desempregados em fevereiro, elevando a taxa de desemprego ao nível mais alto desde
junho de 1998, o que significa
dizer que é o mais alto dos quatro anos de governo Zapatero.
É o quinto mês consecutivo
de elevação do desemprego,
agora de quase 9% da população economicamente ativa.
Não obstante, Zapatero lidera em todas as pesquisas de intenção de voto e foi o vencedor,
segundo todas as pesquisas, do
debate de segunda-feira, apesar
do líder oposicionista Mariano
Rajoy ter lembrado, uma e outra vez, que 4.500 pessoas por
dia engrossaram as listas de desempregados em janeiro.
Como explicar a vantagem de
Zapatero? Há quem ache que é
preciso explicar o inverso. Nicolás Sartorius, vice-presidente da Fundação Alternativas,
próxima da IU (Esquerda Unida), diz, em artigo no jornal "El
País", não entender "por que
um governo com um balanço
tão bom não tem assegurada
sua reeleição".
Não é tão difícil entender: os
espanhóis vão às urnas no momento em que todos os indicadores econômicos estão se deteriorando rapidamente, após
um período de prolongado
crescimento. A economia espanhola cresce há 14 anos. Superou a média de crescimento da
OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o clubão dos 30
países mais ricos do mundo)
em nove dos últimos dez anos e
a dos países da zona do euro em
todos os últimos 12 anos.
Embora o crescimento tenha
se dado indistintamente em governos socialistas e conservadores, seria natural que o beneficiário do bom humor decorrente do progresso continuado
fosse quem governou nos quatro mais recentes, ou seja, Rodríguez Zapatero, do Partido
Socialista Operário Espanhol.
Acontece que dificilmente se
repetirá neste ano eleitoral um
resultado similar devido à desaceleração causada pela crise
interna por sua vez prima-irmã
da crise global. A desaceleração
começou já no final do ano passado, quando parou bruscamente o motor do crescimento,
que era o setor imobiliário.
Em 2007, a Espanha ainda
cresceu 3,8%. O governo previa
para este ano algo menos (3%),
mas a Comissão Européia reduziu a cifra para 2,7%. O desemprego é conseqüência dessa nova situação: a taxa fechou
2007 em 8,6%, depois de atingir no segundo trimestre o melhor patamar desde a restauração da democracia (1977), com
7,95%. Começou 2008 com o
recorde negativo em 10 anos.
Reflexo direto da desaceleração e do conseqüente aumento
do desemprego: uma gradual
desaceleração no consumo, o
que levou, só em janeiro, ao fechamento de 4.000 lojas.
A venda de automóveis para
particulares (85% do mercado)
caiu em fevereiro 9,9%, totalizando uma queda de 13,1% nos
dois primeiros meses do ano.
Não há, portanto, razões para
a surpresa de Sartorius com as
dificuldades de Zapatero.
Tampouco surpreende que o
presidente continue liderando
nas pesquisas. Ao que tudo indica, a maioria do eleitorado vê
a crise no noticiário mas não a
sente diretamente no bolso.
É o que indica pesquisa do
CIS (Centro de Investigações
Sociológicas). Quando a pergunta é sobre a situação econômica do país, a maioria absoluta dos pesquisados (52%) responde que é "má/muito má".
Mas quando a pergunta é sobre
a situação pessoal do pesquisado, o resultado praticamente se
inverte: 44% dizem que sua situação é "boa/muito boa" e só
27% que é "má/muito má".
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