São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2008

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Nem desemprego recorde tira Zapatero da liderança

Dados de fevereiro elevam taxa ao nível mais alto do atual governo da Espanha

Eleitorado parece não sentir a crise diretamente no bolso, e primeiro-ministro se mantém como favorito para a eleição de domingo

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Saiu ontem, a cinco dias das eleições espanholas de domingo, um número que, em tese, demoliria as chances do candidato do governo, no caso o próprio presidente do governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero: 53.406 pessoas entraram para a lista de desempregados em fevereiro, elevando a taxa de desemprego ao nível mais alto desde junho de 1998, o que significa dizer que é o mais alto dos quatro anos de governo Zapatero.
É o quinto mês consecutivo de elevação do desemprego, agora de quase 9% da população economicamente ativa.
Não obstante, Zapatero lidera em todas as pesquisas de intenção de voto e foi o vencedor, segundo todas as pesquisas, do debate de segunda-feira, apesar do líder oposicionista Mariano Rajoy ter lembrado, uma e outra vez, que 4.500 pessoas por dia engrossaram as listas de desempregados em janeiro.
Como explicar a vantagem de Zapatero? Há quem ache que é preciso explicar o inverso. Nicolás Sartorius, vice-presidente da Fundação Alternativas, próxima da IU (Esquerda Unida), diz, em artigo no jornal "El País", não entender "por que um governo com um balanço tão bom não tem assegurada sua reeleição".
Não é tão difícil entender: os espanhóis vão às urnas no momento em que todos os indicadores econômicos estão se deteriorando rapidamente, após um período de prolongado crescimento. A economia espanhola cresce há 14 anos. Superou a média de crescimento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o clubão dos 30 países mais ricos do mundo) em nove dos últimos dez anos e a dos países da zona do euro em todos os últimos 12 anos.
Embora o crescimento tenha se dado indistintamente em governos socialistas e conservadores, seria natural que o beneficiário do bom humor decorrente do progresso continuado fosse quem governou nos quatro mais recentes, ou seja, Rodríguez Zapatero, do Partido Socialista Operário Espanhol.
Acontece que dificilmente se repetirá neste ano eleitoral um resultado similar devido à desaceleração causada pela crise interna por sua vez prima-irmã da crise global. A desaceleração começou já no final do ano passado, quando parou bruscamente o motor do crescimento, que era o setor imobiliário.
Em 2007, a Espanha ainda cresceu 3,8%. O governo previa para este ano algo menos (3%), mas a Comissão Européia reduziu a cifra para 2,7%. O desemprego é conseqüência dessa nova situação: a taxa fechou 2007 em 8,6%, depois de atingir no segundo trimestre o melhor patamar desde a restauração da democracia (1977), com 7,95%. Começou 2008 com o recorde negativo em 10 anos.
Reflexo direto da desaceleração e do conseqüente aumento do desemprego: uma gradual desaceleração no consumo, o que levou, só em janeiro, ao fechamento de 4.000 lojas.
A venda de automóveis para particulares (85% do mercado) caiu em fevereiro 9,9%, totalizando uma queda de 13,1% nos dois primeiros meses do ano.
Não há, portanto, razões para a surpresa de Sartorius com as dificuldades de Zapatero.
Tampouco surpreende que o presidente continue liderando nas pesquisas. Ao que tudo indica, a maioria do eleitorado vê a crise no noticiário mas não a sente diretamente no bolso.
É o que indica pesquisa do CIS (Centro de Investigações Sociológicas). Quando a pergunta é sobre a situação econômica do país, a maioria absoluta dos pesquisados (52%) responde que é "má/muito má". Mas quando a pergunta é sobre a situação pessoal do pesquisado, o resultado praticamente se inverte: 44% dizem que sua situação é "boa/muito boa" e só 27% que é "má/muito má".


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