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Chávez ordena "expropriação" da Cargill
Decisão contra multinacional americana de alimentos é anunciada em meio à disputa sobre escassez de produtos básicos
Nacionalizações anteriores na Venezuela incluíram indenização; Caracas desiste de estatizar banco ligado ao grupo Santander
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, determinou ontem a expropriação da multinacional norte-americana Cargill,
em meio à disputa com as fábricas de alimentos sobre de quem
é a culpa pelas falhas no abastecimento e pela inflação.
"Que comece o processo expropriatório da Cargill e com
investigação judicial", ordenou
Chávez ao ministro da Agricultura, Elías Jaua, durante reunião transmitida pela TV estatal. "Prepare-me o decreto."
Ao contrário do que fez nas
nacionalizações anteriores,
Chávez usou a palavra "expropriação" e não falou em indenização. Na semana passada, ele
disse que, caso estatizasse empresas de alimentos, o pagamento seria feito por meio de
bônus, e não em dinheiro.
O presidente anunciou a estatização logo depois de acusar
a empresa americana de produzir apenas variedades de arroz
que fogem ao congelamento de
preço. Desde sábado, Chávez
determinou uma intervenção
militar nas fábricas de beneficiamento do produto para que
produzam mais arroz branco,
tabelado pelo governo.
Anteontem, um decreto estabeleceu que pelo menos 80% da
produção das fábricas deve ser
de arroz branco. As empresas
alegam que os preços congelados não cobrem nem sequer os
custos de produção, principalmente por causa da inflação alta -30,9% no ano passado.
No anúncio, Chávez não deixou claro se a medida atinge
apenas a fábrica de arroz da
Cargill -a empresa produz na
Venezuela óleo, farinha, macarrão, açúcar e café, entre outros alimentos. Chávez também voltou a ameaçar a empresa venezuelana Polar, a maior
fabricante de alimentos do país
e que está com sua fábrica de
arroz sob intervenção.
"Nós poderíamos expropriar
todas as fábricas da Polar, eu
lhe advirto, senhor [Lorenzo]
Mendoza, porque o senhor
manda os seus advogados dizerem que uma expropriação,
bom, está bem. Se você quer
brigar com governo, lhe digo
que não é com governo, mas
com a lei", afirmou.
"A oligarquia deveria estar
rezando para que a crise não
nos atinja duramente. Porque
este que está e estes que estamos aqui não vamos fazer nada
para salvaguardar os interesses
da oligarquia. Vamos fazer tudo
para salvaguardar os interesses
do povo venezuelano."
Nacionalização adiada
Ainda ontem, Chávez decidiu
adiar por pelo menos um ano a
nacionalização do Banco Venezuela, um dos maiores do país e
pertencente ao grupo espanhol
Santander, informaram fontes
do governo e do banco à agência de notícias Reuters.
O anúncio da nacionalização
havia sido feito em 31 de julho
pelo próprio Chávez. O Banco
de Venezuela é o terceiro maior
do país, com cerca de 10% dos
depósitos, 285 agências e 3 milhões de clientes. O valor de
compra foi estimado em aproximadamente US$ 1,9 bilhão.
Até agora, o governo venezuelano não pagou a maior parte das nacionalizações feitas
desde o início de 2007, quando
Chávez deu início ao plano de
ampliar a presença do Estado
na economia. Segundo estimativa do economista da Universidade Central da Venezuela
(UCV) José Guerra, a conta das
nacionalizações ainda não pagas é de cerca de US$ 15 bilhões.
"O adiamento da nacionalização do banco era previsível. O
governo não tem caixa para financiar mais nada."
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