São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2010

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Ataques antes de eleição matam 17 em Bagdá

Série de atentados teve como alvos servidores públicos que votavam antecipadamente porque vão trabalhar no domingo

Objetivo é desencorajar ida de eleitores às urnas e passar mensagem de que governo do premiê Maliki, que tenta manter cargo, é ilegítimo


Ali al Saadi/France Presse
Soldados iraquianos selam local de ataque de foguete Katyusha que matou sete pessoas em Hurriya, no norte da capital Bagdá

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

Atentados deixaram ontem 17 mortos e dezenas de feridos em Bagdá, numa série de ataques lançada a três dias de uma eleição parlamentar tida como um teste crucial para a capacidade de o Iraque garantir sua segurança após a retirada militar americana, em 2011.
Os ataques visaram funcionários públicos que antecipavam sua ida às urnas por estarem convocados a trabalhar no pleito de domingo. Calcula-se que pelo menos dois terços dos 950 mil servidores aptos a votar a partir de ontem -primeiro dia de um feriado eleitoral que vai até segunda- sejam soldados e policiais.
O aparente objetivo da ação é desencorajar o comparecimento dos eleitores e reforçar a mensagem dos grupos rebeldes de que o governo é ilegítimo e incapaz de cumprir promessas de segurança. O braço iraquiano da Al Qaeda vinha prometendo há semanas força máxima para impedir o pleito.
No primeiro ataque, um disparo de foguete Katyusha contra um centro de votação matou sete pessoas no bairro de Hurriya, norte da capital. Esse tipo de míssil projetado por engenheiros soviéticos na Segunda Guerra Mundial (1939-45) é pouco preciso mas tem alto poder de destruição.
Em seguida, no bairro residencial nobre de Mansur, um homem-bomba acionou explosivos escondidos debaixo do casaco quando estava do lado de soldados que faziam fila para votar, matando seis deles. A Folha foi impedida de chegar ao local do atentado. Sem aparentar nervosismo, policiais alegaram "razões de segurança para o pleito", mas não relataram o ocorrido.
O terceiro ataque, também causado por um homem-bomba, matou quatro pessoas em uma escola transformada em centro de votação.
Anteontem, ao menos 32 pessoas haviam morrido em três ataques na cidade de Baquba (a 60 km de Bagdá).

Ameaça ao premiê
Os incidentes ameaçam pôr em xeque o maior trunfo do premiê e candidato à reeleição, Nuri al Maliki: a diminuição drástica do número de atentados desde 2007.
Bons resultados foram obtidos graças à estratégia que combinou o aumento de tropas americanas no país e a cooptação de milícias sunitas que serviam à Al Qaeda. Mas uma onda de ataques iniciada em agosto reaviva temores de uma nova espiral de violência sectária semelhante à de 2006 e 2007.
Maliki, um xiita nacionalista que diz buscar a reconciliação nacional, acusa os vizinhos Irã e Síria de fomentar grupos insurgentes no Iraque com o objetivo de impedir que Bagdá se torne um rival político e econômico regional.
Sete anos após liderar a invasão que derrubou o ditador Saddam Hussein, Washington diz que só por razões extraordinárias deixará de cumprir o acordo firmado com Bagdá em 2008 pelo qual os EUA se retirarão do Iraque até o fim do próximo ano. Pelo pacto, militares americanos estão desde junho confinados às suas bases, das quais só podem sair por questões logísticas ou a pedido do governo iraquiano.
A eleição de domingo, a segunda legislativa desde a queda de Saddam, é considerada de suma importância para o Oriente Médio. O pleito definirá o governo responsável por coordenar o capítulo final de uma ocupação americana que revoltou muçulmanos mundo afora e permitirá evitar ou não um novo conflito sectário com ramificações em vários países.


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