DA ENVIADA ESPECIAL A HARARE
EM HARARE

Ignorando o que prevê a lei, a Comissão Eleitoral do Zimbábue (ZEC) perdeu ontem o prazo de seis dias após o comparecimento às urnas para a divulgação do resultado da eleição presidencial, que ameaça acabar com o reinado de 28 anos do ditador Robert Mugabe, 84.
À 0h de hoje, a ZEC não havia dado estimativa de quando seriam declarados os resultados. A oposição diz que a Justiça aceitou examinar a questão.
Ontem, o politburo do partido governista, o Zanu-PF, se reuniu por cinco horas em Harare sob a proteção de tropas de choque e blindados. Decidiu apoiar a disputa do segundo turno pelo ditador, caso nenhum candidato supere 50%.
"Foi uma revisão da situação até agora, com uma urgência renovada devido à perspectiva de segundo turno", disse à Folha o porta-voz do partido, Bright Matonga. Ele revelou que dever haver 16 contestações de resultados para a Câmara dos Deputados -o suficiente para devolver a maioria aos governistas. O Zanu-PF contabilizara 97 de 210 assentos, e o MDC (Movimento pela Mudança Democrática), 99.
Morgan Tsvangirai, candidato presidencial do MDC, afirma que venceu a eleição no primeiro turno, com 50,3% dos votos, contra 43,8% de Mugabe. Ainda assim, o MDC se diz disposto a disputar o segundo turno.

Jornalistas presos
Matonga confirmou que estão sendo mantidos na delegacia de Harare Central Barry Leon Bearak, 58, repórter do "New York Times", e Steven John Beaven, 45, free-lancer britânico, que segundo o governo estavam trabalhando na cobertura das eleições sem a credencial emitida pelo governo.
Ambos foram presos na véspera no hotel York Lodge e, segundo Matonga, serão deportados após pagamento de multa. Ele indicou haver espiões espalhados por hotéis da capital.