São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Otan enviará reforços ao Afeganistão

Em cúpula em Estrasburgo, aliados prometem a mandar mais 5.000 militares; porém, contingente não inclui tropas de combate

Aliança supera impasse e confirma o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen como novo secretário-geral; para EUA, balanço é dúbio

Federico Gambarini/Efe
Colunas de fumaça sobem de edifícios atacados em protestos anti-Otan em Estrasburgo; ao menos 10 mil pessoas foram aos atos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ESTRASBURGO (FRANÇA)

Num tímido aceno aos apelos dos EUA por um envolvimento maior no conflito do Afeganistão, líderes europeus prometeram ontem enviar mais 5.000 militares para reforçar as ações da Otan (aliança militar do Ocidente) na estabilização do país.
O anúncio foi feito na cidade francesa de Estrasburgo pelo presidente americano, Barack Obama, no encerramento da reunião que celebrou os 60 anos da Otan. O encontro, planejado para ressaltar a unidade da aliança militar que barrou o avanço da União Soviética, expôs divergências dentro e fora das salas de reunião.
Enquanto os líderes discutiam o futuro da Guerra no Afeganistão, considerada o teste mais premente para a coesão da aliança, milhares de manifestantes antiglobalização e antiguerra entraram em violentos choques com a polícia francesa. A segurança máxima isolou o centro de Estrasburgo mas não impediu graves distúrbios nos arredores.

Resultado dúbio
Para Obama, em sua primeira viagem internacional como presidente, a cúpula teve duas faces. Por um lado, a forma calorosa com que foi recebido marca uma virada de página nas relações transatlânticas, azedadas por oito anos de governo Bush. Por outro, sua campanha para aumentar a presença europeia na linha de frente afegã teve pouco efeito.
O reforço anunciado pelos europeus não inclui tropas de combate, que os americanos pedem para dividir o fardo nas ações contra o Taleban e a Al Qaeda. Além disso, dos 5.000 militares prometidos, mais de metade terá presença temporária, para garantir a segurança das eleições afegãs de agosto. O restante ficará encarregado do treinamento da polícia e do Exército afegãos.
Obama, contudo, elogiou o "comprometimento" europeu com a nova estratégia americana para o Afeganistão, anunciada há poucos dias. O plano inclui o envio de 21 mil soldados adicionais até o fim do ano.
"Não esqueça que nossa nova estratégia foi anunciada há apenas uma semana", respondeu Obama a um repórter que citou a crescente tendência de "americanização" do conflito no Afeganistão. "Começamos a encaminhar recursos reais para alcançar nossos objetivos".
Numa entrevista coletiva em que economizou os sorrisos que esbanjou nos encontros com os líderes europeus, o presidente admitiu que mais recursos ainda são necessários. Mas lembrou que o comprometimento europeu com o treinamento de forças afegãs é um investimento no "futuro da Otan". A ideia, segundo Obama, é coerente com o novo conceito estratégico que a Otan começa a elaborar para encarar "os desafios do século 21".
Para os anfitriões do encontro, realizado entre três cidades da fronteira franco-alemã, a Otan deve continuar sendo uma aliança cujo peso político se divide dos dois lados do Atlântico. Tanto o presidente francês, Nicolas Sarkozy, como a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, rechaçaram a ideia de "americanização" do conflito e da própria Otan.
"O Afeganistão é um teste para todos nós", disse a chanceler, repetindo uma frase que foi ouvida durante toda a cúpula. Os próximos meses dirão se a sexagenária aliança passou no teste, mas Merkel deixou claro que prefere uma redução do envolvimento ocidental no país. "O que precisamos é de uma afeganização".

Secretário-geral
Dividida entre a determinação americana de reforçar o poder de fogo da aliança e a relutância europeia em aumentar seu envolvimento numa guerra cada vez mais incerta, a Otan conseguiu a duras penas resolver um outro impasse.
Após superar a oposição da Turquia, os líderes aprovaram a nomeação do premiê dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, como o novo secretário-geral da aliança. Até a véspera, os turcos pareciam decididos a vetar Rasmussen, a quem acusam de insensibilidade durante a crise das charges contra o profeta Maomé, publicadas em 2005 por um jornal dinamarquês.
A oposição foi removida à base de promessas. Uma delas, a de que o país terá um militar entre os subsecretários da Otan. Outra, a de que dois capítulos do sofrido processo de adesão turca à União Europeia serão desbloqueados.
Mas com Rasmussen à frente da aliança a partir do segundo semestre, sobram dúvidas sobre a capacidade de um político rejeitado no mundo islâmico para comandar a reconciliação do Afeganistão.


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