São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2011

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O FIM DA CAÇADA

Decisão é um risco calculado dos EUA, afirmam analistas

Filósofo diz que a imagem de Bin Laden poderá ganhar status igual ao do guerrilheiro argentino Che Guevara

"Não é preciso provar a morte. Se estivesse vivo, ele já teria dado um sinal", diz ex-porta-voz do Exército de Israel

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

A decisão de não divulgar as últimas fotos de Osama bin Laden é um risco calculado assumido pelo presidente Barack Obama, que considerou mais importante privar os extremistas de uma arma de incitação do que responder aos céticos e adeptos de teorias conspiratórias.
Para Avishai Margalit, um dos mais importantes filósofos israelenses, a morte de Bin Laden não muda o fato de que a sua imagem já havia sido imortalizada como um ícone antiestablishment.
"As imagens de Bin Laden são superdivulgadas e lembram as de Che Guevara. Ambos têm o mesmo ar de desafio que exerce tanta atração", diz. "Como símbolo, Guevara tornou-se mais importante morto do que vivo. O futuro dirá se o mesmo se repetirá com Bin Laden".
Com a experiência de ter vivido dilemas semelhantes, o ex-porta-voz do Exército israelense Nachman Shai acha que o presidente Obama tomou a decisão correta.
"A credibilidade da operação é menos importante do que o risco de provocar reações de ódio com imagens repulsivas", diz Shai, hoje deputado trabalhista. "Não é preciso provar a morte de Bin Laden. Se estivesse vivo, ele já teria dado um sinal."
A ausência de imagens que provem a execução deve intensificar o ceticismo que tomou conta de muitos árabes ao ouvir o anúncio da morte de Bin Laden.
Mas a reação indica sobretudo a desconfiança em relação aos EUA, não necessariamente a construção de um mito, diz Yoram Meital, da Universidade de Tel Aviv.
Uma desconfiança que tem como principal marco a invasão norte-americana do Iraque, sob o falso argumento de que o país possuía armas de destruição de massa.

CASARÃO
Segundo Meital, a história recente mostra que a perseguição seletiva de líderes extremistas islâmicos pode ter efeitos imprevisíveis.
"No Egito, a prisão dos líderes da Gama'a al-Islamiyya praticamente matou o grupo", diz o especialista em Oriente Médio. "Já em Gaza, a execução do xeque Ahmed Yassin por Israel deu nova vida a seu grupo, o Hamas."
Avishai Margalit observa que, mesmo sem um túmulo, já que Bin Laden teria sido sepultado no mar, resta a dúvida sobre como evitar que o casarão onde o terrorista se refugiava se transforme em local de peregrinação. A mesma preocupação levou os soviéticos a explodir o bunker de Hitler em Berlim, em 1945.


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