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AMÉRICA DO SUL
Michelle Bachelet é candidata única do centro-esquerda, enquanto o centro-direita se apresenta dividido na disputa
Socialista surge como favorita à Presidência do Chile
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Os chilenos votarão para a escolha do substituto do presidente
Ricardo Lagos apenas em 11 de
dezembro. A propaganda eleitoral gratuita começa só 15 dias antes, e a campanha propriamente
dita apenas em setembro. Mas
boa parte dos prognósticos dá como amplamente favorita a socialista Michelle Bachelet, 53, ex-ministra da Saúde e da Defesa e ex-prisioneira política da ditadura do
general Augusto Pinochet Ugarte
(1973-90).
Seu favoritismo obedece a uma
aritmética bastante simples. Do
lado governista -a Concertación, coligação liderada pelos socialistas e pelo Partido Democrata
Cristão (PDC)-, eram duas as
candidatas: a própria Bachelet e
Soledad Alvear, ex-chanceler e dirigente do PDC.
As primárias do bloco de centro-esquerda estavam marcadas
para fins de julho. Seria algo inédito em termos latino-americanos, com duas mulheres disputando a indicação presidencial.
Mas Alvear retirou-se no dia 17.
Ex-pinochetista
No campo oposto, o dos conservadores, concorria solitário o economista Joaquín Lavín Infante,
ex-prefeito de Santiago, e ex-pinochetista, que em 1999 forçou
Lagos a disputar um segundo turno e obteve 48,7% dos votos.
Mas Lavín, da UDI (União Democrática Independente), ganhou no mês passado um concorrente: Sebastian Piñera, da RN
(Renovação Nacional), um homem carismático, com fortuna de
US$ 950 milhões -rede de TV,
um quarto da empresa aérea LAN
Chile-, que tem como ponto forte no currículo o trabalho pelo
"não" no plebiscito de 1988 que
propunha mais oito anos de mandato para Pinochet. O então ditador saiu derrotado.
Em suma, o bloco de centro-esquerda se unificou, enquanto o da
direita se dividiu.
Maioria absoluta
Não há ainda pesquisa eleitoral
com a nova divisão dos campos.
No último dia 13, a socialista Bachelet estava com 45% das intenções de voto, contra 25% a Lavín.
Ela receberá boa parte dos 13% de
intenções atribuídas a Soledad Alvear. O que já lhe daria, em tese,
confortável maioria absoluta.
O resto do bolo eleitoral teria
uma boa fatia entregue a Tomás
Hirsch, do Partido Humanista,
que concorrerá coligado com os
Verdes e com o Partido Comunista Chileno. A coalizão obteve um
décimo dos votos nas eleições
municipais do ano passado.
A direita abertamente pinochetista emagreceu na proporção direta das revelações do Senado dos
EUA a respeito das 155 contas
bancárias em que o ex-ditador depositou cerca de US$ 17 milhões.
E seu trágico balanço na área dos
direitos humanos foi afinal quantificado em 2004: além dos 3.200
mortos, foram 28 mil os torturados pela ditadura.
A Concertación foi a princípio
um acordo pela reimplantação da
democracia. Era o denominador
comum entre os socialistas
-partido de Salvador Allende,
presidente marxista deposto por
Pinochet em setembro 1973- e
os democrata-cristãos, moderadamente reformistas.
Foram do PDC os dois primeiros presidentes da redemocratização: Patricio Aylwin e Eduardo
Frei Ruiz-Tagle. Seguiu-se Lagos,
o primeiro socialista, com seu
partido já respeitoso à economia
de mercado.
Perfil chileno
Essa linhagem de governantes
reformistas operou com algumas
vantagens próprias ao perfil econômico e social do Chile. O país
tem crescido acima dos 5%. A
Previdência Social, privatizada
por Pinochet, não gerava déficits
do Orçamento. A carga tributária
(18% do PIB) é a metade da brasileira. Para corrigir as desigualdades herdadas da ditadura, esse
país relativamente pequeno
-16,2 milhões de habitantes, o
equivalente à Região Metropolitana de São Paulo- investiu maciçamente em programas sociais.
Há vários exemplos. Construiu
180 mil casas populares em cada
um dos 14 anos de redemocratização. A pobreza absoluta caiu de
20% a 4,2%. Os programas de bolsa-família, chamados de Chile Solidário, não tiveram o orçamento
cortado no final dos anos 90, apesar dos efeitos internos da crise
asiática.
A renda per capita é de US$ 10,7
mil. O analfabetismo, de menos
de 4%. O cobre, responsável por
34% das exportações, rendeu US$
14 bilhões no ano passado e atingiu em novembro sua maior cotação em 16 anos. As vendas externas se diversificaram com celulose, peixes, frutas e vinhos.
Ou seja, o Chile é relativamente
fácil de governar. E os chilenos,
segundo as pesquisas, não querem mudar de rumo.
O jornalista João Batista Natali, dentro
do Chile, viajou a convite do governo
chileno
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