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Projeção indica vitória de García no Peru
Segundo o Instituto Apoyo, ex-presidente derrotou o nacionalista Ollanta Humala por margem de cerca de seis pontos
Político de centro-esquerda
deve voltar ao poder após
16 anos para um segundo
mandato em que promete
corrigir erros do primeiro
Ivan Alvarado/Reuters
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García acena para seus simpatizantes após votar em Lima |
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
O ex-presidente de centro-esquerda Alan García Pérez, 57,
derrotou o nacionalista Ollanta
Humala e deve voltar ao cargo
máximo do Peru após 16 anos,
segundo projeção realizada a
partir das atas eleitorais.
O candidato do Apra (Aliança
Popular Revolucionária Americana) obteve 52,7% dos votos
válidos no segundo turno realizado ontem, contra 47,3% para
Humala, aponta a projeção do
instituto Apoyo, considerado o
mais confiável do Peru, baseada em 86,5% das atas eleitorais
de todo o país. A margem de erro é de um ponto percentual,
para cima ou para baixo.
"Já é apropriado dizer que
García é o virtual presidente
eleito", disse o diretor de Apoyo, Alfredo Torres. A posse para
o mandato de cinco anos está
marcada para 28 de julho.
A projeção confirmou a forte
divisão regional dos votos. No
Departamento de Ayacucho
(altiplano sul), principal campo
de batalha entre o Sendero Luminoso e o Estado nos anos
1980 e 1990, Humala recebeu
impressionantes 83,9% dos votos, a maior diferença em favor
de um dos candidatos.
Na região de Arequipa, segunda cidade do país e reduto
mais importante de Humala,
simpatizantes do nacionalista,
aos gritos de "Arequipa revolução", atacaram os do Apra, que
celebravam o resultado da boca-de-urna. Até o fechamento
desta edição, não havia informação sobre feridos ou presos.
García, por outro lado, confirma o favoritismo no norte e
vence também em Lima -onde
está cerca de um terço da população- com estimados 62,6%.
A vitória do aprista na capital
peruana foi considerada crucial
para "desempatar" a polarização entre o norte e o sul.
Líder de um desastroso governo (1985-1990), García deixou o poder em meio a um espiral de recessão, hiperinflação,
violência fora de controle promovida pelos senderistas e escândalos de corrupção.
Apesar do fracasso, ele quase
foi reeleito em 2001, quando
perdeu no segundo turno para
Alejandro Toledo. Desta vez,
buscou superar a alta taxa de
rejeição explorando o medo de
um possível governo Humala e
usando suas principais armas: a
excelente oratória e a estrutura
do Apra, único partido com
presença em todo o país.
Já Humala, estreante na política, deve se consolidar como
a principal força da oposição,
sobretudo por meio de sua bancada no Congresso -a maior,
com 45 das 120 cadeiras. O partido de García vem em seguida,
com 36 deputados. O Legislativo é unicameral.
Sem violência
Apesar do temor de tumulto
e dos episódios violentos nos
últimos dias, os centros de votação funcionaram normalmente, registrando apenas incidentes isolados, segundo a
ONG Transparência, que tem a
maior rede de observadores.
Num deles, um homem jogou
moedas e notas de dinheiro em
García quando ele saía do seu
centro de votação, em Lima.
O episódio mais violento
ocorreu em Huancayo, onde
militantes do Apra agrediram
um funcionário eleitoral que
confiscou material de campanha. Mas as principais irregularidade foram cometidas pelos
próprios candidatos.
Por volta das 9h30, García
promoveu um café da manhã
diante das câmeras acompanhado da mulher, Pilar, e dos
cinco filhos. O desjejum virou
uma entrevista de 30 minutos,
deixando espaço para que ele
pedisse votos, o que é proibido
no dia da votação.
Na entrevista, o ex-presidente voltou a rechaçar a idéia de
que parte do seu apoio se deve à
tese do "mal menor" e comparou a eleição peruana com o o
segundo turno francês de 2002,
disputado entre o atual presidente, Jacques Chirac, e o xenófobo líder de extrema-direita
Jean-Marie Le Pen.
"Eu não sou o mal menor, eu
me considero o voto útil para o
povo peruano", disse García
ontem de manhã.
Já Humala antecipou a ida ao
local de votação das 12h para as
9h locais, para evitar o episódio
ocorrido no primeiro turno,
quando foi cercado por manifestantes e só saiu do prédio
após a chegada da polícia.
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