São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2006

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Projeção indica vitória de García no Peru

Segundo o Instituto Apoyo, ex-presidente derrotou o nacionalista Ollanta Humala por margem de cerca de seis pontos

Político de centro-esquerda deve voltar ao poder após 16 anos para um segundo mandato em que promete corrigir erros do primeiro


Ivan Alvarado/Reuters
García acena para seus simpatizantes após votar em Lima


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

O ex-presidente de centro-esquerda Alan García Pérez, 57, derrotou o nacionalista Ollanta Humala e deve voltar ao cargo máximo do Peru após 16 anos, segundo projeção realizada a partir das atas eleitorais.
O candidato do Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana) obteve 52,7% dos votos válidos no segundo turno realizado ontem, contra 47,3% para Humala, aponta a projeção do instituto Apoyo, considerado o mais confiável do Peru, baseada em 86,5% das atas eleitorais de todo o país. A margem de erro é de um ponto percentual, para cima ou para baixo.
"Já é apropriado dizer que García é o virtual presidente eleito", disse o diretor de Apoyo, Alfredo Torres. A posse para o mandato de cinco anos está marcada para 28 de julho.
A projeção confirmou a forte divisão regional dos votos. No Departamento de Ayacucho (altiplano sul), principal campo de batalha entre o Sendero Luminoso e o Estado nos anos 1980 e 1990, Humala recebeu impressionantes 83,9% dos votos, a maior diferença em favor de um dos candidatos.
Na região de Arequipa, segunda cidade do país e reduto mais importante de Humala, simpatizantes do nacionalista, aos gritos de "Arequipa revolução", atacaram os do Apra, que celebravam o resultado da boca-de-urna. Até o fechamento desta edição, não havia informação sobre feridos ou presos.
García, por outro lado, confirma o favoritismo no norte e vence também em Lima -onde está cerca de um terço da população- com estimados 62,6%. A vitória do aprista na capital peruana foi considerada crucial para "desempatar" a polarização entre o norte e o sul.
Líder de um desastroso governo (1985-1990), García deixou o poder em meio a um espiral de recessão, hiperinflação, violência fora de controle promovida pelos senderistas e escândalos de corrupção.
Apesar do fracasso, ele quase foi reeleito em 2001, quando perdeu no segundo turno para Alejandro Toledo. Desta vez, buscou superar a alta taxa de rejeição explorando o medo de um possível governo Humala e usando suas principais armas: a excelente oratória e a estrutura do Apra, único partido com presença em todo o país.
Já Humala, estreante na política, deve se consolidar como a principal força da oposição, sobretudo por meio de sua bancada no Congresso -a maior, com 45 das 120 cadeiras. O partido de García vem em seguida, com 36 deputados. O Legislativo é unicameral.

Sem violência
Apesar do temor de tumulto e dos episódios violentos nos últimos dias, os centros de votação funcionaram normalmente, registrando apenas incidentes isolados, segundo a ONG Transparência, que tem a maior rede de observadores. Num deles, um homem jogou moedas e notas de dinheiro em García quando ele saía do seu centro de votação, em Lima.
O episódio mais violento ocorreu em Huancayo, onde militantes do Apra agrediram um funcionário eleitoral que confiscou material de campanha. Mas as principais irregularidade foram cometidas pelos próprios candidatos.
Por volta das 9h30, García promoveu um café da manhã diante das câmeras acompanhado da mulher, Pilar, e dos cinco filhos. O desjejum virou uma entrevista de 30 minutos, deixando espaço para que ele pedisse votos, o que é proibido no dia da votação.
Na entrevista, o ex-presidente voltou a rechaçar a idéia de que parte do seu apoio se deve à tese do "mal menor" e comparou a eleição peruana com o o segundo turno francês de 2002, disputado entre o atual presidente, Jacques Chirac, e o xenófobo líder de extrema-direita Jean-Marie Le Pen.
"Eu não sou o mal menor, eu me considero o voto útil para o povo peruano", disse García ontem de manhã.
Já Humala antecipou a ida ao local de votação das 12h para as 9h locais, para evitar o episódio ocorrido no primeiro turno, quando foi cercado por manifestantes e só saiu do prédio após a chegada da polícia.


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