São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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Chávez não é perigo para região, diz Lula

Presidente chamou venezuelano de "parceiro", mas ainda espera recuo da Venezuela em relação a críticas feitas ao Senado

"Não dou palpites nas políticas internas", diz Lula sobre caso RCTV; para ele, Brasil não tem razões para brigar com EUA ou Caracas

Jorge Silva/Reuters
Estudante participa de nova marcha contra o fim da RCTV em Caracas; protesto uniu alunos de universidades públicas e privadas

KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista à rede britânica BBC que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, é "um parceiro" e que Caracas não representa "um perigo à América Latina". Mas, segundo apurou a Folha, ainda aguarda um recuo do venezuelano para dar por encerrada a discussão sobre o fim da licença da rede oposicionista RCTV.
"Chávez tem suas razões para brigar com os EUA. E os EUA têm suas razões para brigar com a Venezuela. O Brasil não tem nenhuma razão para brigar com os EUA ou a Venezuela", disse Lula ao programa "Hard Talk", lembrando que o Brasil tem negócios importantes no país de Chávez.
Instigado diversas vezes pelo repórter da BBC, Stephen Sackur, a opinar sobre o caso da RCTV, cuja concessão chegou ao fim no último dia 27 e não foi renovada por Chávez, Lula afirmou: "Temos que aprender a respeitar a lógica legal de cada país. Não dou palpite nas políticas internas de nenhum país", afirmou o presidente -e acrescentou que no Brasil seu governo tem feito esforço "incomensurável" para garantir a liberdade de imprensa.
"Para mim, o senhor está tentando evitar fazer críticas a Chávez", insistiu o repórter britânico. Lula apenas sorriu.
Apesar das declarações conciliatórias, Lula ainda aguarda um gesto público de recuo de Chávez para considerar encerrado o recente imbróglio com o país vizinho. Integrantes da comitiva presidencial avaliam que esse gesto viria em breve.
O presidente brasileiro já disse a auxiliares que sua paciência com o venezuelano chegou ao limite. Por isso, reagiu duas vezes a declarações de Chávez nos últimos dias. Ontem, indagado se esperava um contato de Chávez, respondeu: "Deixa eu voltar para o Brasil para resolver isso". O chanceler Celso Amorim também sinalizou que espera desdobramentos: "Vamos aguardar como as coisas evoluem, se hoje [ontem] ou amanhã [hoje] haverá algo mais claro".
Na última quarta, o Senado brasileiro pediu em requerimento que Chávez reconsiderasse o caso da RCTV. O venezuelano, então, disse que o Congresso era um "papagaio" dos EUA. Na sexta, Lula disse que Chávez deveria cuidar dos assuntos do seu país. O Itamaraty então divulgou nota pedindo que o embaixador em Brasília desse explicações. No sábado, Chávez afirmou que fora obrigado a responder a um "comunicado grosseiro" do Senado. Lula rebateu novamente o colega dizendo que o Congresso não fora grosseiro.
Na entrevista à BBC, Lula foi ainda questionado sobre a influência de Chávez quando da nacionalização do gás na Bolívia, em 2006. Rejeitou a tese: "Morales não era nem presidente quando o povo boliviano decidiu nacionalizar o gás. É uma decisão soberana".
Ao responder se havia dois modelos em disputa na região, o de Brasília e o de Caracas, disse: "O sonho da América Latina é que todos os países cresçam economicamente, façam distribuição de renda e melhorem a vida do povo. É assim que pensa o presidente Kirchner, é assim que pensa Chávez, é assim que pensa o presidente Lula".

Colaborou a Redação


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