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Obama propõe a islã fim de "desconfiança"
Em discurso no Cairo, presidente ressalta contribuições de muçulmanos à humanidade e reconhece erros dos EUA
Democrata cita Corão várias vezes, destaca fato de ter antepassados islâmicos e não usa palavra "terrorismo" ao oferecer "novo começo"
Chuck Kennedy/Flickr/whitehouse
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acena à plateia durante discurso da manhã de ontem na Universidade do Cairo
DA REDAÇÃO
Num discurso histórico em
que citou várias vezes o Corão,
o presidente Barack Obama
apresentou ontem propostas
para selar um "novo começo"
nas relações entre os EUA e o
mundo muçulmano. Obama
defendeu pôr fim à "desconfiança mútua" como forma de
pacificar o Oriente Médio.
Discursando na Universidade do Cairo, Egito, Obama saudou a plateia com o tradicional
salam alekum (em árabe, a paz
de Alá esteja convosco) e rompeu vários tabus na tentativa de
conquistar o 1,5 bilhão de muçulmanos mundo afora, alvo da
fala endereçada ao vivo por rádios e TVs por satélite.
"Este ciclo de desconfiança e
discórdia precisa acabar", disse
Obama ante cerca de 3.000
pessoas no auditório da universidade. A fala, que durou 55 minutos, foi interrompida várias
vezes por aplausos e até por um
grito de "nós te amamos".
"Vim até aqui em busca de
um recomeço entre os EUA e os
muçulmanos, que seja baseado
em interesse e respeito mútuos
e na [ideia] de que os EUA e o islã não são excludentes", afirmou o presidente, que prometeu combater "os estereótipos
negativos do islã".
Obama levantou bandeiras
caras a todos os muçulmanos.
Ele defendeu o direito de existência da "Palestina", criticou o
expansionismo israelense e o
passado colonialista do Ocidente, reconheceu o direito de
todas as nações, "incluindo o
Irã", de ter um programa nuclear civil e citou várias passagens do "Corão sagrado" que
exaltam a paz e a tolerância.
Num claro esforço para romper com a retórica incendiária e
confrontativa de seu antecessor George W. Bush, Obama
destacou os vínculos históricos
entre os americanos e o islã.
O democrata lembrou que o
Marrocos foi o primeiro país a
reconhecer os EUA e afirmou
que a maioria dos 7 milhões de
muçulmanos americanos têm
educação e renda maior que a
média da população.
O discurso do Cairo foi considerado um marco pelo fato de
Obama ter destacado pela primeira vez seu sobrenome
"Hussein" (em árabe, o bom) e
detalhado claramente os laços
de sua família com o islã.
"Sou cristão, mas meu pai
vem de uma família queniana
que inclui gerações de muçulmanos", disse Obama, que enumerou algumas das contribuições islâmicas à modernidade,
como a invenção da álgebra e da
bússola magnética.
Em outro divisor de águas, o
democrata tornou-se o primeiro presidente americano a admitir em exercício a participação da CIA no golpe que derrubou o governo iraniano do nacionalista Mohammed Mossadegh, em 1953, em represália à
sua decisão de nacionalizar a
indústria petroleira do país.
Foi a primeira vez que a Casa
Branca ajudou a derrubar um
governo no Oriente Médio. O
caso alimenta até hoje a desconfiança de Teerã em relação
a Washington.
Raízes profundas
O aceno de Obama tinha o
objetivo de amenizar o ressentimento de muitos muçulmanos em relação aos EUA.
As raízes do antiamericanismo muçulmano remontam ao
início do século 20, quando os
EUA apoiavam as potências
que colonizavam países na
África, Ásia e Oriente Médio.
O endosso dos EUA à criação,
em 1948, de Israel -que expulsou milhões de palestinos de
suas casas- acirrou a animosidade. Desde então, a Casa
Branca tornou-se o maior fornecedor de armas e dinheiro ao
Estado judaico.
A contrariedade com a aliança israelo-americana ajudou a
fomentar o extremismo nacionalista e religioso no Oriente
Médio árabe.
O antagonismo se refletiu no
estereótipo do terrorista islâmico, presente em muitos filmes americanos.
O espectro do choque das civilizações, nome de um livro do
americano Samuel Huttington
que se tornou referência entre
pensadores conservadores, ganhou força com os ataques do
11 de Setembro.
Aos atentados da Al Qaeda
sucederam a prisão de Guantánamo, a invasão do Iraque e as
torturas em Abu Ghraib.
Na busca por denominadores
comuns, Obama citou sete focos de tensão com o mundo
muçulmano (veja quadro acima), entre eles o extremismo
de uma "pequena mas potente
minoria" -ele não usou a palavra "terrorismo" nenhuma vez.
Ele cobrou dos palestinos
que renunciem definitivamente à violência, "que não leva a
nada", e sugeriu uma parceria
com "todos aqueles que rejeitam a morte de homens, mulheres e crianças inocentes".
Com agências internacionais
Folha Online
Leia a íntegra traduzida do
discurso de Obama
www.folha.com.br/091553
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