São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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"Mal menor" guia o voto de peruanos

País faz hoje segundo turno entre esquerdista Humala, visto como radical, e direitista Keiko, filha de ex-ditador

Maioria da população passa ao largo dos altos índices de crescimento econômico, que chegam a 7% do PIB anuais


PATRÍCIA CAMPOS MELLO
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

Escolher entre democracia e prosperidade econômica, votar com a consciência ou com o bolso, "la china" contra "el chollo", e que vença o mal menor. É assim que muitos peruanos encaram a eleição presidencial de hoje.
Empatados nas pesquisas, o esquerdista Ollanta Humala e a direitista Keiko Fujimori decidem o segundo turno da eleição mais disputada da história do Peru.
Humala desperta desconfiança por seu passado estatizante, que poderia pôr em risco o sucesso econômico do país, e de sua ligação com o venezuelano Hugo Chávez.
Já Keiko, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (que cumpre pena de 25 anos de prisão), traz de volta o espectro de violações de direitos humanos e autoritarismo do pai, que deu um golpe em 92.
O vencedor das urnas terá pela frente uma tarefa inglória. "Quem ganhar hoje começa a governar com metade do Peru torcendo contra", disse à Folha o analista político Luís Benavente, da Universidade de Lima. Nas ruas, bares, jornais e TVs, as discussões são acaloradas.
Humala ganhou o apoio dos intelectuais e da classe mais pobre, concentrada no sul e nas zonas de altiplano. Seu mais famoso apoiador é o Nobel Mario Vargas Llosa.
Vargas Llosa, notório liberal, chegou a comparar uma disputa entre Keiko e Humala a escolher entre "câncer terminal e Aids". Mudou de ideia e passou a acreditar na "lulificação" de Humala.
Depois de perder em 2006 para o atual presidente Alan García, Humala adotou estratégia "paz e amor", de migração para o centro, assessorado por petistas.
Mas nem todos acreditam nisso. O empresariado e os setores financeiros apoiam Keiko, que defende o livre mercado. Sempre que Humala subiu nas pesquisas, a Bolsa de Lima e a moeda peruana, o sol, caíram.
A classe média de Lima e o norte do país também estão com a candidata. Muitos têm lembranças muito boas de Fujimori, tido como o presidente que derrotou o terrorismo e acabou com a inflação.
Humala fez ontem um aceno a esses saudosistas, dizendo que pode anistiar Fujimori em razão de seu delicado estado de saúde.
"Humala representa a mudança e Keiko, a continuidade", diz o analista político Heber Joel Campos, da Pontifícia Universidade Católica.
"Parte da população teme que Humala será um retrocesso econômico e freará o crescimento com seu estatismo; outros vão votar nele porque acham que é preciso mudar o modelo, já que a riqueza do país não está chegando até eles."
A população de baixa renda se sente excluída. Apesar de o Peru ser o país sul-americano que mais cresceu nos últimos anos, com média de 7%, não houve grande redução na desigualdade. Isso é combustível para mais de 200 conflitos sociais no país.


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