São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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"Para que votar?", indagam portugueses

País em crise econômica vai às urnas hoje com grande apatia; qualquer que seja resultado, FMI dará as cartas

Opositor de direita é favorito para vencer eleição, convocada após governo ter falhado ao aprovar pacote fiscal


VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Os jornais e as TVs insistem em dizer que a eleição portuguesa que acontece hoje é a mais acirrada dos últimos anos. Mas o que se vê nas ruas é apatia e desesperança com relação ao futuro.
Serão escolhidos os 230 deputados da Assembleia Nacional. O partido que obtiver mais cadeiras indica o novo primeiro-ministro, que irá administrar um país em recessão, com desemprego de 12,6% e dívida pública equivalente a 93% do PIB, cerca de 160 bilhões (R$ 368 bi).
Nos bares, nas universidades, nos shoppings, o que se ouve é a mesma resposta quando o assunto é eleição.
"Para que votar? O país está ruim e continuará assim pelo menos nos próximos dois anos. Qualquer que seja o governo, irá apenas cumprir o acordo com o Fundo Monetário Internacional, que prevê mais austeridade. Só espero que não aconteça com a gente o mesmo que se passa na Grécia, em que as medidas do FMI só pioram a situação", afirma Henrique Simão, 28, que passou dois anos desempregado e hoje faz mestrado em economia e vive de bolsa de estudo.
Como ele, muitas pessoas não devem votar hoje.
Há projeções de 40% de abstenção, mesmo índice registrado nas últimas eleições legislativas, em 2009.
"A insatisfação que os portugueses têm não gera participação, mas alienação", afirma Marina Costa Lobo, doutora em ciência política da Universidade de Lisboa.
O sociólogo Pedro Magalhães concorda. "O português se sente distante do poder. Isso explica a abstenção elevada e a apatia", diz.
A eleição de hoje é fruto de uma crise política gerada por problemas econômicos.
Portugal tem uma dívida crescente, e os mercados começaram a exigir juros cada vez mais altos para emprestar ao país.
Em março, o governo do socialista José Sócrates não conseguiu aprovar no Parlamento seu quarto pacote de austeridade.
Com isso, Sócrates renunciou e foram convocadas eleições antecipadas.
Ele espera uma vitória de seu partido para continuar no poder. Mas as últimas pesquisas colocam o PSD (Partido Social Democrata) à frente, com intenções de voto que variam de 34,4% a 38,5%. O PS aparece com, em média, 5 pontos percentuais a menos.
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, pregou o voto útil. Afirmou que Portugal precisa de um governo com maioria absoluta no Parlamento para conseguir implantar as medidas necessárias para enfrentar a crise.
São medidas acordadas com o FMI e a União Europeia em troca de um empréstimo de 78 bilhões.
Entre elas estão cortes de gastos públicos e privatizações. Devem ser vendidas empresas como TAP (aérea), o Metrô de Lisboa e do Porto, o sistema ferroviário e a administradora dos aeroportos.

IRRITAÇÃO E BUZINAÇO
Apesar da aparente resignação, ao menos anteontem, último dia da campanha nas ruas, o lisboeta colocou para fora sua irritação.
O PS e o PSD fizeram arruadas (como os portugueses chamam as passeatas) em horários alternados pelo bairro do Chiado, o que complicou ainda mais o trânsito nas estreitas ruas da região.
Os militantes, aos gritos, tentavam sem sucesso se sobrepor às buzinas dos motoristas impacientes.
No mesmo dia, o país enfrentou mais uma das greves no sistema ferroviário.
Com pouco dinheiro e sem trens, tudo bem. Ficar parado sob um sol de quase 30 graus foi demais.


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