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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Enquanto ações contra soldados dos EUA chegam a 13 por dia, TV árabe veicula fita atribuída a ex-ditador

Saddam "ressurge" em fita; ataques disparam

DA REDAÇÃO

O espectro de Saddam Hussein ainda paira sobre o Iraque e fomenta a resistência contra a ocupação anglo-americana entre simpatizantes de seu regime. Ontem, a rede de TV qatariana Al Jazira divulgou uma fita de áudio supostamente gravada pelo ex-ditador, desaparecido desde o início de abril, clamando estar vivo.
Autoridades americanas examinarão a gravação, cuja autenticidade não foi provada.
Os comandantes americanos dizem que o desconhecimento do paradeiro de Saddam é um dos principais obstáculos a suas ações. Sem saberem se o ex-ditador está vivo ou morto, os iraquianos que simpatizavam com seu regime se sentem incentivados a atacar a coalizão, enquanto aqueles que o rechaçavam temem represálias, se ele estiver vivo, caso colaborem com a coalizão.
A Al Jazira disse que o conteúdo da fita foi obtido de uma ligação anônima para seu escritório, na qual o interlocutor tocou 20 minutos de uma suposta gravação de Saddam feita em 14 de junho. A voz, muito semelhante à do ex-ditador, diz que ele está no Iraque .
"Irmãos e irmãs, tenho boas notícias. Já foram organizadas células para a guerra santa", diz. "Não há um dia em que o sangue dos infiéis não seja derramado sobre nossa terra pura, graças a nossos heróicos guerreiros. Os próximos dias, Deus queira, serão difíceis para os invasores."

Treze ataques diários
Enquanto o presidente George W. Bush desafia a resistência iraquiana e os comandantes militares americanos minimizam os efeitos dos ataques contra suas tropas, os soldados estacionados no Iraque -especialmente os que estão no noroeste do país- enfrentam o que parece, cada vez mais, uma guerra de guerrilha. O número médio de ataques diários chegou a 13, segundo o comando americano.
Desde a declaração do fim dos principais confrontos, em 1º de maio, houve 26 baixas por ações hostis nas fileiras dos EUA.
Só ontem, Dia da Independência dos EUA, 11 iraquianos foram mortos ao tentar emboscar uma patrulha, e 18 soldados americanos foram feridos em um ataque de morteiro na região de Balad (90 km a noroeste da capital).
Em Bagdá, um soldado que guardava o Museu Nacional Iraquiano -aberto brevemente anteontem- foi morto por um franco-atirador, e outro foi ferido em uma explosão. E um civil iraquiano morreu ao tentar pôr uma bomba na cidade de Baqoba.
"Ainda estamos em guerra", disse o tenente-general Ricardo Sanchez ao "New York Times".
Em artigo publicado pelo jornal "Financial Times", o especialista em segurança Max Boot, do Council of Foreign Relations em Nova York, afirmou que os EUA estavam "indubitavelmente mal preparados para os desdobramentos da guerra". Ele contabiliza, além dos ataques, as instalações de serviços públicos destruídas por ataques da resistência.
"Instalações como transformadores elétricos e estações de extração de petróleo, meticulosamente poupadas nos bombardeios, foram destruídas por saqueadores e sabotadores. Membros do regime deposto escaparam e retornaram para assombrar as autoridades de ocupação. Os dois problemas fizeram o processo [de reconstrução] retroceder", escreveu Boot.
Os US$ 25 milhões oferecidos pelos EUA em troca de pistas do paradeiro do ex-ditador Saddam Hussein, anteontem, e a criticada declaração do presidente americano para que os iraquianos "fossem para a briga" -que deputados de oposição chamaram de "um convite ao ataque"- dão a medida do desencontro entre o plano de reconstrução traçado e o que tem sido feito.
O Pentágono esperava reduzir as tropas no Iraque após o encerramento dos conflitos principais. Agora, após uma pequena redução, novos militares americanos poderão ser mandados ao país, além de mais 30 mil estrangeiros.


Com agências internacionais


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