São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Indústria pede que Congresso rejeite adesão venezuelana

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Entidades de peso da indústria e do agronegócio brasileiros defendem que o Congresso rejeite o protocolo de entrada da Venezuela no Mercosul nos termos em que foi proposto. Para elas, a adesão do país vizinho ao bloco não trará vantagens econômicas relevantes e comprometerá a negociação de acordos de livre comércio com outras regiões, entre as quais União Européia e EUA.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria), que lidera o setor industrial nas negociações internacionais, afirma que a aprovação do protocolo levará ao desequilíbrio entre os direitos e obrigações do país presidido por Hugo Chávez.
A Venezuela terá todos os direitos de membro pleno do Mercosul assim que o protocolo entrar em vigor -o que ocorrerá depois de sua aprovação pelos Congressos dos quatro sócios do bloco. Uruguai e Argentina já deram o sinal verde. Faltam Brasil e Paraguai.
Entre os direitos de membro pleno está o poder de veto, que a Venezuela poderia usar, por exemplo, para barrar negociações com os Estados Unidos ou a União Européia, mercados considerados prioritários pela indústria e o agronegócio.
"A Venezuela poderá, antes mesmo de cumprir qualquer período de transição, influenciar a agenda externa do bloco", afirma documento que a CNI encaminhou ao Congresso em maio e no qual pede a rejeição do protocolo de adesão.
A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) também enviou carta aos líderes do Congresso na qual defende a não aprovação do ingresso da Venezuela nos termos propostos.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, considera "inaceitável" o ultimato de Chávez ao Congresso. Porém diz não ver problema na adesão da Venezuela, desde que o país implemente os compromissos necessários.
O embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, ressalta que a Venezuela resiste a definir os cronogramas de cumprimento de suas obrigações em relação ao Mercosul. Na opinião de Barbosa, o ruído político trazido ao bloco pela Venezuela ofusca o benefício econômico que o setor privado teria com o maior acesso ao mercado do país.
Lucia Maduro, economista da unidade de negociações internacionais da CNI, observa que as exportações do Brasil para a Venezuela cresceram muito a partir de 2004, em razão de acordo firmado entre o Mercosul e os países da Comunidade Andina no ano anterior. "Não é a adesão da Venezuela ao Mercosul que vai mudar o curso do comércio", diz.
André Nassar, diretor-geral do Icone, instituto ligado à agropecuária, diz que a entrada da Venezuela não trará benefícios para o setor. Para ele, o Brasil tem mais a perder do que a ganhar com a adesão. "A política comercial ficará mais difícil e será complicado negociar com os norte-americanos."


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