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Guerrilha buscou diálogo com Planalto, revela correio
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
E-mails obtidos pela Folha
do computador de Raúl Reyes,
o número dois das Farc morto
em bombardeio colombiano no
Equador em março, revelam a
preocupação da guerrilha em
abrir espaços de interlocução
no PT e no governo Lula.
A troca de mensagens entre
dirigentes das Farc indica dificuldade de acesso da guerrilha
à cúpula do poder em Brasília.
E, apesar, de sugerir a simpatia
de alguns militantes e assessores, não mostra uma relação
institucional do Palácio do Planalto com o grupo colombiano.
Em e-mail de 14 de abril de
2007, o ex-padre Olivério Medina, "embaixador" das Farc no
Brasil, relata a Reyes um suposto encontro com Selvino
Heck, fundador do PT e assessor especial de Mobilização Social de Lula. Diz que Heck entregou carta de Reyes ao presidente, agradece "a proteção internacional" e conta que ele lhe
deu o e-mail do chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho: "Este amigo também ajudou bastante". Heck e Carvalho negam contato com Medina.
Segundo a Folha apurou, a
correspondência que cita brasileiros foi entregue no final de
abril ao ministro da Defesa,
Nelson Jobim. Na troca de
mensagens, entre 1999 e 2008,
os representantes das Farc no
exterior relatam a Reyes suas
ações para angariar apoio.
Os "embaixadores" da guerrilha, por diversas vezes, sugerem desfrutar de suposto acesso à cúpula em Brasília. A lista
de brasileiros citados tem cerca
de 60 nomes, entre vereadores,
deputados, senadores, acadêmicos, juízes, procuradores e
ministros. São citados, além do
PT, PDT, PCdoB e PSol.
Reunião
"Falei com Selvino Heck. É
um companheiro sincero. Comentou que havia entregado a
Lula a carta que a Empresa (as
Farc) lhe enviou pela reeleição", escreve Medina. "Agradeci-lhe a proteção internacional.
Contei-lhe onde e em que evento conheci Lula." Em 17 de janeiro, Medina comenta sobre a
preparação de um suposto encontro com Lula, no Rio. Por
meio de sua assessoria, Lula
disse que "não manteve contato pessoal, ou por intermédio
de assessores, com as Farc".
Em junho de 2005, mês da
renúncia do ministro José Dirceu (Casa Civil), a correspondência é intensa. Em e-mail do
dia 4, José Luis, da comissão internacional das Farc, diz a Reyes que se reuniu com o jornalista Breno Altman, como suposto representante Dirceu.
Altman confirma que contatou José Luis em Havana naquele mês. Mas nega que tenha
usado o nome de Dirceu.
No dia 12, Reyes responde
que deseja receber visita de um
porta-voz brasileiro. Quatro
dias depois, expede conclusões
tiradas da reunião com "o enviado de Dirceu": que o governo
Lula "aceita a presença discreta
de Olivério no país".
Enquanto rende elogios a
Dirceu, Reyes desanca o assessor de Lula para assuntos internacionais: "São inocultáveis as
manobras dos especialistas em
nos barrar no Foro de São Paulo e outros cenários. Nisso está
uma parte do PT com o inefável
Marco Aurélio [Garcia]".
Heck disse que foi procurado
no fim de 2005 por movimentos pelo direitos humanos, "que
denunciavam as péssimas condições de prisão" em que estava
Medina, que aguardava o julgamento do processo de extradição. Ele comunicou a situação a
Carvalho, que intercedeu.
"Solicitei a intervenção de
nossa Secretaria de Direitos
Humanos, que tomou providências para que o prisioneiro
tivesse condições minimamente adequadas", explicou Carvalho. Para ele, a "gratidão que o
padre Medina manifesta em
suas mensagens só pode estar
relacionada a estes fatos".
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