São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Guerrilha buscou diálogo com Planalto, revela correio

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

E-mails obtidos pela Folha do computador de Raúl Reyes, o número dois das Farc morto em bombardeio colombiano no Equador em março, revelam a preocupação da guerrilha em abrir espaços de interlocução no PT e no governo Lula.
A troca de mensagens entre dirigentes das Farc indica dificuldade de acesso da guerrilha à cúpula do poder em Brasília. E, apesar, de sugerir a simpatia de alguns militantes e assessores, não mostra uma relação institucional do Palácio do Planalto com o grupo colombiano.
Em e-mail de 14 de abril de 2007, o ex-padre Olivério Medina, "embaixador" das Farc no Brasil, relata a Reyes um suposto encontro com Selvino Heck, fundador do PT e assessor especial de Mobilização Social de Lula. Diz que Heck entregou carta de Reyes ao presidente, agradece "a proteção internacional" e conta que ele lhe deu o e-mail do chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho: "Este amigo também ajudou bastante". Heck e Carvalho negam contato com Medina.
Segundo a Folha apurou, a correspondência que cita brasileiros foi entregue no final de abril ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na troca de mensagens, entre 1999 e 2008, os representantes das Farc no exterior relatam a Reyes suas ações para angariar apoio.
Os "embaixadores" da guerrilha, por diversas vezes, sugerem desfrutar de suposto acesso à cúpula em Brasília. A lista de brasileiros citados tem cerca de 60 nomes, entre vereadores, deputados, senadores, acadêmicos, juízes, procuradores e ministros. São citados, além do PT, PDT, PCdoB e PSol.

Reunião
"Falei com Selvino Heck. É um companheiro sincero. Comentou que havia entregado a Lula a carta que a Empresa (as Farc) lhe enviou pela reeleição", escreve Medina. "Agradeci-lhe a proteção internacional. Contei-lhe onde e em que evento conheci Lula." Em 17 de janeiro, Medina comenta sobre a preparação de um suposto encontro com Lula, no Rio. Por meio de sua assessoria, Lula disse que "não manteve contato pessoal, ou por intermédio de assessores, com as Farc".
Em junho de 2005, mês da renúncia do ministro José Dirceu (Casa Civil), a correspondência é intensa. Em e-mail do dia 4, José Luis, da comissão internacional das Farc, diz a Reyes que se reuniu com o jornalista Breno Altman, como suposto representante Dirceu.
Altman confirma que contatou José Luis em Havana naquele mês. Mas nega que tenha usado o nome de Dirceu.
No dia 12, Reyes responde que deseja receber visita de um porta-voz brasileiro. Quatro dias depois, expede conclusões tiradas da reunião com "o enviado de Dirceu": que o governo Lula "aceita a presença discreta de Olivério no país".
Enquanto rende elogios a Dirceu, Reyes desanca o assessor de Lula para assuntos internacionais: "São inocultáveis as manobras dos especialistas em nos barrar no Foro de São Paulo e outros cenários. Nisso está uma parte do PT com o inefável Marco Aurélio [Garcia]".
Heck disse que foi procurado no fim de 2005 por movimentos pelo direitos humanos, "que denunciavam as péssimas condições de prisão" em que estava Medina, que aguardava o julgamento do processo de extradição. Ele comunicou a situação a Carvalho, que intercedeu.
"Solicitei a intervenção de nossa Secretaria de Direitos Humanos, que tomou providências para que o prisioneiro tivesse condições minimamente adequadas", explicou Carvalho. Para ele, a "gratidão que o padre Medina manifesta em suas mensagens só pode estar relacionada a estes fatos".


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