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Brasil deve votar acordo de cooperação com Zimbábue
Texto tramita na Câmara enquanto EUA, UE e ONU estudam sanções ao país
Para o deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), acordo é "absurdo"; fonte do Itamaraty diz que texto
não é exclusivo para Harare
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Enquanto EUA, União Européia e até líderes africanos
pressionam por sanções contra
o governo do Zimbábue, no
Brasil tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados um acordo de cooperação
técnica com o país, que ressalta
"o desejo comum de expandir
as relações existentes de amizade" entre ambos.
Sem definir as áreas compreendidas pela cooperação e
sugerindo o intercâmbio de
profissionais e conhecimentos
entre instituições públicas e
privadas, o texto do acordo é
sugestivo de um gesto político
de boa vontade brasileira com
Harare. Ele chegou a entrar na
pauta do plenário nos dias 12 e
19 de junho, mas não foi votado
-segundo legisladores consultados pela Folha, pode voltar à
pauta a qualquer momento.
A posição brasileira se torna
cada vez mais rara no cenário
internacional, no qual o governo do Zimbábue enfrenta condenação quase universal pela
repressão que caracterizou a
reeleição, na semana passada,
do ditador Robert Mugabe.
Além de considerada ilegítima por potências ocidentais, as
condições e o resultado da votação foram criticados por observadores da União Africana
(UA) e da Comunidade pelo
Desenvolvimento da África
Austral (SADC), tradicionalmente relutantes em afrontar
membros africanos. E a ONU
debate a imposição de sanções
econômicas e de viagens à cúpula do governo do país.
Mas na Câmara brasileira,
até agora, pouco foi discutido
sobre o simbolismo de uma
cooperação técnica com instituições zimbabuanas neste
momento. Segundo o deputado
federal Gustavo Fruet (PSDB-PR), que se opôs à votação no
dia 19, o problema foi a falta de
parecer da Comissão de [Ciência e] Tecnologia.
O deputado federal Antonio
Carlos Pannunzio (PSDB-SP),
que foi ao Zimbábue como observador do primeiro turno da
eleição presidencial, caracterizou o acordo como "absurdo".
"Na presente conjuntura, não
há como assinar nenhum acordo de cooperação técnica, por
mais generalista que seja, com
o governo do Zimbábue."
Ele afirmou ainda que pedirá
a votação rápida do acordo "para que possa ser rejeitado". "Ou
então que o presidente da República retire o acordo antes
que seja votado."
Cooperação Sul-Sul
O acordo foi assinado pelo
chanceler Celso Amorim e por
seu homólogo zimbabuano,
Simbarashe S. Mumbengegwi,
em 2006. Uma fonte do Itamaraty afirmou à Folha que o
acordo não é específico para o
Zimbábue, mas faz parte de
uma série de tratados assinados dentro da política brasileira de cooperação Sul-Sul. A
mesma fonte disse que o acordo é pensado para o longo prazo e não se relaciona com um
governo ou mandato especial.
A assessoria de imprensa do
órgão disse que a questão agora
"está nas mãos do Congresso."
O acordo teve votação encaminhada na Câmara pela Comissão de Relações Exteriores
e Defesa Nacional. O presidente da comissão, deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB), não
respondeu aos recados deixados pela Folha durante a última semana. O gabinete do relator do texto na comissão, deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), informou que ele está em
viagem oficial, e sua assessoria
não retornou os recados.
Em comunicado mais duro
do que anteriores, o Itamaraty
afirmou ontem que "o governo
do Zimbábue tem a responsabilidade de promover (...) um
entendimento nacional com as
demais forças políticas do país
que permita a preservação da
estabilidade e a retomada de
condições propícias ao desenvolvimento (...)".
Disse ainda que "tomou conhecimento" da condenação da
missão de observação da SADC
ao resultado da eleição.
O embaixador do Brasil em
Harare, Raúl de Taunay, está
sendo aguardado em Brasília
para discutir a posição do Brasil, ainda segundo o Itamaraty.
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