São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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Zelaya diz que volta hoje a Honduras

Presidente deposto afirma que regressará acompanhado de "vários presidentes" e membros de comunidades internacionais

OEA e Igreja Católica haviam desaconselhado retorno, ensaiado por simpatizantes; cardeal hondurenho fala em risco de "banho de sangue"

Elmer Martinez/France Presse
Opositores ao golpe fazem protesto em Tegucigalpa; marcha foi "ensaio" para o retorno de Zelaya à cidade, previsto para hoje

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, ratificou ontem que pretende desembarcar hoje em Tegucigalpa, apesar das advertências da OEA e da Igreja Católica de que sua presença pode mergulhar o país em confrontos violentos.
"Vamos nos apresentar no aeroporto internacional de Honduras, em Tegucigalpa, com vários presidentes, vários membros de comunidades internacionais", disse Zelaya, em entrevista ao canal de TV Telesur, controlado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Pelo menos dois presidentes se comprometeram a acompanhar Zelaya, os esquerdistas Rafael Correa (Equador) e Cristina Kirchner (Argentina).
"Pedirei a todos os fazendeiros, moradores, indígenas, jovens, sindicatos e amigos que me acompanhem no retorno a Honduras. Não levem armas. Façam o que eu sempre preguei, a não violência. Deixem que sejam eles os que usem a violência, a arma e a repressão", disse Zelaya, desta vez a uma emissora de rádio.
Ontem, alguns milhares de manifestantes pró-Zelaya realizaram uma marcha de cerca de 6 km até o aeroporto de Tegucigalpa, no que chamaram de "ensaio" para a eventual recepção de Zelaya, deposto e expulso do país há uma semana.
Vários dos manifestantes vieram do interior do país, apesar da vigilância do Exército nas estradas para impedir a chegada de simpatizantes de Zelaya à capital.
A manifestação foi vigiada por um helicóptero militar e policiais da tropa de choque, mas não houve incidentes graves. Na fronteira com El Salvador, o Exército impediu que uma caravana de manifestantes estrangeiros pró-Zelaya entrasse no país.

"Banho de sangue"
O clima tenso levou o governo interino a prorrogar por mais um dia o toque de recolher, que terminaria ontem. Com isso, segue a proibição de circular à noite e a suspensão de certos direitos individuais.
Temendo atos de violência, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, e a Igreja Católica hondurenha desaconselharam a volta de Zelaya.
"Acredito que existe um clima de muita tensão e de violência, e certamente ele [Zelaya] terá de avaliar bem a situação que pode se provocar", afirmou Insulza, em entrevista a uma rádio chilena.
Anteontem, Insulza esteve em Tegucigalpa, onde se reuniu com a Suprema Corte e lideranças políticas e religiosas. Pouco antes de embarcar, ele admitiu que "não se viu disposição" para a volta de Zelaya.
Insulza se recusou a se reunir com o governo interino, não reconhecido pela entidade.
O influente arcebispo de Honduras, Oscar Andrés Rodríguez, que tem dado sinais de apoio ao presidente interino, Roberto Micheletti, exortou ontem a Zelaya a não voltar.
"Um regresso ao país neste momento poderia desatar um banho de sangue. Sei que você [Zelaya] ama a vida, respeita a vida. Até hoje, não morreu nem um hondurenho. Medite, porque depois seria demasiado tarde", disse o arcebispo.
Rodríguez é um duro crítico do presidente Hugo Chávez, principal aliado internacional de Zelaya. Em 2007, disse que o líder venezuelano era "surdo, cego e se achava Deus".
O presidente Correa, no entanto, reiterou ontem a sua decisão de acompanhar Zelaya. "Obviamente, há riscos, mas, se alguém nos dispara um tiro, terá feito um favor à revolução cidadã", disse em Quito.
Em entrevista à TV CNN, Micheletti afirmou ontem que Honduras "não está vivendo um golpe, mas um processo de sucessão constitucional."


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