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Zelaya diz que volta hoje a Honduras
Presidente deposto afirma que regressará acompanhado de "vários presidentes" e membros de comunidades internacionais
OEA e Igreja Católica haviam desaconselhado retorno, ensaiado por simpatizantes; cardeal hondurenho fala em risco de "banho de sangue"
Elmer Martinez/France Presse
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Opositores ao golpe fazem protesto em Tegucigalpa; marcha foi "ensaio" para o retorno de Zelaya à cidade, previsto para hoje
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
(HONDURAS)
O presidente deposto de
Honduras, Manuel Zelaya, ratificou ontem que pretende desembarcar hoje em Tegucigalpa, apesar das advertências da
OEA e da Igreja Católica de que
sua presença pode mergulhar o
país em confrontos violentos.
"Vamos nos apresentar no
aeroporto internacional de
Honduras, em Tegucigalpa,
com vários presidentes, vários
membros de comunidades internacionais", disse Zelaya, em
entrevista ao canal de TV Telesur, controlado pelo presidente
venezuelano, Hugo Chávez.
Pelo menos dois presidentes
se comprometeram a acompanhar Zelaya, os esquerdistas
Rafael Correa (Equador) e
Cristina Kirchner (Argentina).
"Pedirei a todos os fazendeiros, moradores, indígenas, jovens, sindicatos e amigos que
me acompanhem no retorno a
Honduras. Não levem armas.
Façam o que eu sempre preguei, a não violência. Deixem
que sejam eles os que usem a
violência, a arma e a repressão",
disse Zelaya, desta vez a uma
emissora de rádio.
Ontem, alguns milhares de
manifestantes pró-Zelaya realizaram uma marcha de cerca
de 6 km até o aeroporto de Tegucigalpa, no que chamaram de
"ensaio" para a eventual recepção de Zelaya, deposto e expulso do país há uma semana.
Vários dos manifestantes
vieram do interior do país, apesar da vigilância do Exército
nas estradas para impedir a
chegada de simpatizantes de
Zelaya à capital.
A manifestação foi vigiada
por um helicóptero militar e
policiais da tropa de choque,
mas não houve incidentes graves. Na fronteira com El Salvador, o Exército impediu que
uma caravana de manifestantes estrangeiros pró-Zelaya entrasse no país.
"Banho de sangue"
O clima tenso levou o governo interino a prorrogar por
mais um dia o toque de recolher, que terminaria ontem.
Com isso, segue a proibição de
circular à noite e a suspensão
de certos direitos individuais.
Temendo atos de violência, o
secretário-geral da OEA, José
Miguel Insulza, e a Igreja Católica hondurenha desaconselharam a volta de Zelaya.
"Acredito que existe um clima de muita tensão e de violência, e certamente ele [Zelaya]
terá de avaliar bem a situação
que pode se provocar", afirmou
Insulza, em entrevista a uma
rádio chilena.
Anteontem, Insulza esteve
em Tegucigalpa, onde se reuniu
com a Suprema Corte e lideranças políticas e religiosas.
Pouco antes de embarcar, ele
admitiu que "não se viu disposição" para a volta de Zelaya.
Insulza se recusou a se reunir
com o governo interino, não reconhecido pela entidade.
O influente arcebispo de
Honduras, Oscar Andrés Rodríguez, que tem dado sinais de
apoio ao presidente interino,
Roberto Micheletti, exortou
ontem a Zelaya a não voltar.
"Um regresso ao país neste
momento poderia desatar um
banho de sangue. Sei que você
[Zelaya] ama a vida, respeita a
vida. Até hoje, não morreu nem
um hondurenho. Medite, porque depois seria demasiado tarde", disse o arcebispo.
Rodríguez é um duro crítico
do presidente Hugo Chávez,
principal aliado internacional
de Zelaya. Em 2007, disse que o
líder venezuelano era "surdo,
cego e se achava Deus".
O presidente Correa, no entanto, reiterou ontem a sua decisão de acompanhar Zelaya.
"Obviamente, há riscos, mas, se
alguém nos dispara um tiro, terá feito um favor à revolução cidadã", disse em Quito.
Em entrevista à TV CNN,
Micheletti afirmou ontem que
Honduras "não está vivendo
um golpe, mas um processo de
sucessão constitucional."
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