São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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OEA desaconselha volta de Zelaya a Honduras

Declaração do secretário-geral ocorre após governo interino anunciar sua ruptura com a entidade; Igreja fala em "banho de sangue"

Para José Miguel Insulza, rompimento não tem efeito jurídico porque líderes não são reconhecidos; toque de recolher é estendido no país

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

Temendo atos de violências, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e a Igreja Católica desaconselharam a volta do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, que planeja regressar hoje numa "caravana da coragem", acompanhado dos presidentes esquerdistas Rafael Correa (Equador), Cristina Kirchner (Argentina) e Fernando Lugo (Paraguai).
"Nós não vamos nos envolver [na volta]. Agora, acredito que existe um clima de muita tensão e de violência, e certamente ele [Zelaya] terá de avaliar bem a situação que pode se provocar", afirmou o secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, em entrevista a uma rádio de Santiago.
Anteontem, Insulza esteve em Tegucigalpa, onde se reuniu com a Suprema Corte e lideranças políticas e religiosas. Pouco antes de embarcar, ele admitiu que "não se viu disposição" para a volta de Zelaya, detido e expulso de Honduras há uma semana.
Em cadeia obrigatória de rádio e TV, o influente arcebispo de Honduras, Oscar Andrés Rodríguez, que tem dado sinais de apoio ao presidente interino, Roberto Micheletti, exortou ontem a Zelaya a não voltar.
"Um regresso ao país neste momento poderia desatar um banho de sangue. Sei que você [Zelaya] ama a vida, respeita a vida. Até hoje, não morreu nem um hondurenho. Medite, porque depois seria demasiado tarde", disse o arcebispo.
Rodríguez é um duro crítico do presidente Hugo Chávez, principal aliado internacional de Zelaya. Em 2007, disse que o líder venezuelano era "surdo, cego e se achava Deus".
O presidente Correa, no entanto, reiterou ontem a sua decisão de acompanhar Zelaya. "Obviamente, há riscos, mas, se alguém nos dispara um tiro, terá feito um favor à revolução cidadã."

OEA
O anúncio da saída de Honduras da OEA -feito anteontem pelo governo interino após visita de Insulza ao país- não tem nenhum efeito prático porque o governo interino não tem reconhecimento internacional, afirmou ontem o secretário-geral.
"É uma tentativa de resposta e também uma ameaça. Como o governo de Micheletti não está reconhecido (...), não tem nenhum sentido jurídico", disse.
Insulza, que se recusou a ter qualquer contato com representantes do governo Micheletti, voltou a classificar a deposição de Zelaya de "golpe de Estado militar".
Em resposta às declarações de Honduras, Micheletti convocou, por volta 22h locais, uma cadeia nacional obrigatória de rádio e TV para anunciar sua retirada da OEA. O presidente interino se recusou a dizer o nome de Insulza, referindo-se a ele como "um cidadão que veio hoje ao nosso país".
"Se a OEA acredita que, em seu seio, já não existe espaço para Honduras, para os Estados que amam as suas liberdades e defendem a sua soberania, por este meio [o governo] informa que denuncia a Carta da OEA (...), com efeito imediata", afirma o comunicado oficial, lido pela vice-chanceler Martha Lorena Alvarado, com Micheletti ao lado.
Ontem, a Assembleia Geral OEA faria uma reunião extraordinária para debater o que fará como o ultimato dado na quarta-feira, segundo o qual Honduras tinha 72 horas para reconduzir Zelaya ao poder, do contrário o país seria suspenso do organismo.
Com a punição, Honduras perderia o direito de participar das sessões da Assembleia Geral e de qualquer outra atividade da OEA. A medida, porém, não inclui nenhum tipo de sanção econômica contra o país.


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