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Reação de Obama foi cautelosa, diz analista
Para Abraham Lowenthal, Casa Branca fez bem em deixar à OEA resolução da crise em Honduras, sem liderar oposição a golpe
Governo foi considerado tímido pela esquerda dos EUA e atacado pela direita, que defende a legalidade da deposição do presidente
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
A reação do governo de Barack Obama ao golpe em Honduras -de condenar a deposição do presidente Manuel Zelaya, sem adotar sanções além da
anunciada suspensão da cooperação militar- foi "apropriada,
cautelosa e construtiva", defende Abraham Lowenthal, veterano estudioso americano das
relações entre Estados Unidos
e América Latina.
Nos EUA, a posição da Casa
Branca sofre críticas à esquerda e à direita.
Para os conservadores, as
Forças Armadas hondurenhas
agiram preventivamente após
as acusações de abuso de poder
feitas contra Zelaya, e Obama
capitulou diante das pressões
regionais, favorecendo o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aliado do presidente hondurenho deposto.
Para a esquerda, o governo
Obama tenta pressionar Zelaya
a fazer concessões políticas internas e com isso envia sinais
aos golpistas que são ambíguos
e ameaçam frustrar os esforços
da OEA (Organização dos Estados Americanos) para reinstalá-lo no poder.
Lowenthal, porém, diz que
"não cabia aos Estados Unidos
assumirem a liderança contra o
golpe, mas apoiar a Presidência
constitucional".
Abaixo, trechos da entrevista
feita por telefone com o professor da Universidade do Sul da
Califórnia e autor, entre outros
livros, de "Parceiros em Conflito: os EUA e a América Latina
nos anos 90".
FOLHA - Como o senhor avalia a
reação do governo Obama ao golpe
em Honduras?
ABRAHAM LOWENTHAL - A reação
foi apropriada, cautelosa e
construtiva. O governo deixou
claro que considera a deposição
do presidente inaceitável e inconstitucional, mas preferiu
deixar que a OEA tomasse a liderança na resolução da crise,
apoiando iniciativas de outros
países da região.
FOLHA - Alguns críticos consideram a reação ambígua.
LOWENTHAL - Não acho que o
governo americano tenha de
assumir o papel de liderar o
movimento contra o golpe, mas
sim de apoiar a Presidência
constitucional. Não é a mesma
posição, digamos, do governo
da Venezuela, que é um entusiasta de Zelaya.
Acredito que a posição majoritária é a de que Zelaya deve
ser reinstalado, mas que certamente há o que ser negociado
em termos de sua volta. Afinal,
havia uma crise constitucional
em Honduras antes do golpe.
FOLHA - À parte o governo, haveria
grupos americanos em Honduras
-empresários, militares- favoráveis ao golpe?
LOWENTHAL - Não acho que o
país seja hoje uma arena de
muitos investimentos ou de interesses econômicos relevantes dos Estados Unidos. Há conexões militares, que permaneceram depois que Zelaya se
voltou à Venezuela.
Ocorre com frequência com
países pequenos e vulneráveis
que atores externos projetem
sobre eles seus próprios interesses internos e posições internacionais.
Aconteceu com os EUA nos
anos 1980 em El Salvador, na
Nicarágua. No caso de Honduras, Chávez vem usando a situação para avançar sua própria
agenda. Isso é uma complicação a mais.
FOLHA - Ao final da crise, a posição
dos EUA sairá fortalecida em Honduras e na região?
LOWENTHAL - Em Honduras, vai
depender do que acontecer em
termos de compromissos políticos, mas é possível.
De modo mais amplo, o fato
de os Estados Unidos sob Obama estarem sendo menos arrogantes, mostrarem uma abordagem razoável, isso muda a dinâmica imediata.
Mas, se você estiver olhando
para o longo prazo das relações
entre EUA e América Latina,
acho que as histórias mais importantes não são Honduras ou
Chávez, mas os investimentos
consideráveis do atual governo
em mudar a natureza de seu relacionamento com o México e
em construir uma parceria estratégica com o Brasil.
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