|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Eleição deve reviver histórica sigla mexicana
Partido Revolucionário Institucional, que governou México por 71 anos, azeita máquina eleitoral de olho na sucessão de 2012
Pleito nacional, o primeiro após contestada vitória de Felipe Calderón em 2006, torna clara crise do PRD, principal força esquerdista
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a campanha pelo
voto nulo é a que faz mais barulho num México mergulhado
na crise econômica, o tradicionalíssimo PRI (Partido da Revolução Institucional) prepara-se para agarrar a maioria da Câmara dos Deputados nas eleições de hoje, superando o PAN
(Partido da Ação Nacional) do
presidente Felipe Calderón.
O PRI, que governou o México por 71 anos, deve dobrar de
bancada, de 105 para mais de
200 das 500 cadeiras da câmara baixa, apontam as principais
projeções. Mesmo que não consiga a maioria absoluta, o salto
será suficiente para ameaçar a
relativa paz legislativa do conservador Calderón, cujo mandato se encerra em 2012 -no
México não há reeleição.
O PRI estará, a partir de agora, menos disposto a colaborar,
apostam os analistas. Desde
que perdeu a Presidência para
o PAN de Vicente Fox em 2000,
o partido fez pacto tático com
os oponentes no Legislativo.
Com seu estatismo nacionalista já convertido a uma agenda
liberal, trocou apoio pela manutenção de seus feudos, como
o controle sobre sindicatos.
Em 2006, os priistas ficaram
apenas em terceiro lugar nas
presidenciais. Agora, porém,
exibem candidato claro à Presidência, o governador do Estado
do México, Enrique Peña Nieto
(leia texto nesta página).
"As segundas metades de
mandato são sempre contaminadas no México. E essa campanha foi especialmente dura
entre o PAN e o PRI. O presidente Calderón envolveu-se diretamente na campanha", afirma Salvador García Soto, colunista político do jornal mexicano "El Universal".
Calderón, com 60% de aprovação popular, foi o principal
cabo eleitoral do seu partido e
contribuiu para encurtar a vantagem do PRI, que chegou a ser
de 15 pontos percentuais. O
PAN deve obter entre 25% e
29% dos votos, contra entre
31% e 34% do PRI.
Para García Soto, o governo
Calderón soube fazer das eleições legislativas um plebiscito
sobre sua "guerra contra o narcotráfico", deixando a crise
econômica mais grave desde
1994 em segundo plano.
Calderón tem apoio popular
para usar o Exército contra os
cartéis, apesar das denúncias
de violações de direitos humanos e do número recorde de homicídios ligados às drogas no
ano passado. São os soldados,
aliás, que patrulharão as ruas
durante a votação hoje.
"Não deixe o México cair nas
mãos do crime", diz a propaganda do PAN protagonizada
por Místico, estrela da luta livre, uma paixão mexicana.
Mas o fortalecimento do PRI
e a recuperação do governo
Calderón ficam mais evidentes
ainda se comparados à crise cada vez mais profunda pela qual
passa o esquerdista PRD (Partido da Revolução Democrática),
que só deve obter entre 11% e
15% dos votos depois de quase
levar a Presidência na contestada eleição de 2006.
A divisão entre as alas do partido -algo como as tendências
do brasileiro PT- tornaram-se
dramáticas desde que Andrés
Manuel López Obrador, o Amlo, perdeu para Calderón por
apenas 0,54% dos votos.
Desde então, o carismático
Amlo, da esquerda do partido,
segue em caravana pelo país
reivindicando sua vitória
-nunca houve recontagem- e
denunciando acordos no Legislativo entre a ala moderada do
PRD e o governo Calderón.
Nestas eleições, ele radicalizou ainda mais e apoia o pequeno PT (Partido Trabalhista) na
eleição para representante de
Iztapalapa, a mais populosa das
divisões que formam o Distrito
Federal e bastião do PRD.
Apatia e voto nulo
Os analistas dizem que essa
larga ressaca de 2006, além dos
altos níveis de corrupção que
não mudaram com a saída do
PRI, contribuíram para outro
aspecto dessas eleições: a apatia dos eleitores e o fôlego da
campanha pelo voto nulo.
Estão inscritos para votar 77
milhões de mexicanos, mas espera-se que menos da metade
apareça, aumentando a taxa de
abstenção já alta nas eleições
nacionais apenas legislativas.
Vários sites e até mesmo intelectuais fizeram campanha
pelo voto nulo para demonstrar
rejeição aos políticos, enquanto
uma outra ala alerta para os perigos de pregar contra a democracia. Pesquisas dizem que os
nulos podem perfazer entre 5%
e 10% dos votos. Geralmente,
são 2,5%.
Texto Anterior: Coreia do Norte: Pyongyang dispara mais sete mísseis, contrariando ONU Próximo Texto: Partido aposta em governador para sucessão de 2012 Índice
|