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"Kirchner perdeu eleição para construção midiática"
Filósofo compara De Narváez a Collor e Fujimori, "direita que se oferece como leve"
Ricardo Forster admite, porém, que governo Cristina cometeu erros e perdeu contato com a sua base
de sustentação popular
DE BUENOS AIRES
À medida que o governo de
Cristina Kirchner se enfraquece na Argentina, avança um setor da direita no país que explora a lógica dos meios de comunicação e o fim da política tradicional.
Para o filósofo Ricardo Forster, o governo cometeu erros,
mas perdeu as eleições legislativas na maior Província do
país para um "personagem
construído midiaticamente"
-o empresário Francisco De
Narváez-, que compara aos ex-presidentes Fernando Collor
de Mello e Alberto Fujimori
(Peru).
Cabeça do grupo de intelectuais que apontava risco de
uma "restauração conservadora" no país em caso de derrota
do governo, Forster diz que esse processo ainda não se completou e que o governo ainda
tem chance de seu recuperar
-mas não a ponto de se manter
no poder depois de 2011.
(TG)
FOLHA - Por que o governo perdeu
a eleição?
RICARDO FORSTER - Pelo desgaste
de um longo período. Por erros
ao processar conflitos agudos
da sociedade. Pelo fortalecimento de uma oposição de direita, unida na deslegitimação
do governo pelos grandes
meios de comunicação. O vínculo do governo com a corporação midiática se rompeu em
2007 e agora ele pagou um preço caro por isso.
FOLHA - O sr. crê que o estilo do governo está ultrapassado?
FORSTER - Um dos triunfos do
neoliberalismo foi deslocar a
política para linguagens audiovisuais e publicitárias. Essa
mutação permite que grandes
triunfos da época sejam para os
Berlusconi [Silvio, primeiro-ministro da Itália], os De Narváez, que constroem políticas a
partir da espetacularização. É
uma direita que se apropriou
com astúcia dos meios de comunicação e das novas formas
de subjetividade. Isso o governo não soube fazer.
FOLHA - Qual é a sua opinião sobre
Francisco de Narváez?
FORSTER - Parece uma figura
como Collor de Mello no Brasil,
[Alberto] Fujimori no Peru.
Uma parte da socidade sente
que ali está o poder, as luzes do
espetáculo, e não importa o que
haja por trás, que seja um personagem construído midiaticamente. Expressa uma visão
reacionária da sociedade, de
uma direita que se oferece como leve, diferente da velha direita autoritária e violenta do
século passado. São produtos
de fácil digestão.
FOLHA - A eleição expressa repúdio
da sociedade a um estilo visto como
confrontativo?
FORSTER - O governo gestou um
confronto onde as corporações
econômicas querem fixar a
agenda. O conflito está gerado
quando se disputa renda, poder. É preciso diferenciar forma de conteúdo. O governo se
equivocou em várias coisas, deveria ter revisado as estatísticas
oficiais, trocado funcionários,
não soube ler sinais da sociedade, perdeu contato com sua base de sustentação popular.
FOLHA - Há um fim de ciclo do
kirchnerismo ou o governo pode
voltar a se fortalecer?
FORSTER - Se o governo acreditar que não houve derrota, errará. Se recuperar uma visão de
maior abertura, acoplar outros
atores, dizer quais são seus projetos reais, poderá se reestabilizar. Talvez não para 2011, mas
para o futuro. Não me atreveria
a dizer que há um ocaso. É um
momento difícil, um limite a
que chegou, e terá que buscar as
formas de se reconstruir, para
dentro e para fora.
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