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Obama vai à Rússia buscando "recomeço"
Em visita amanhã a Moscou, líder dos EUA vai discutir questões de segurança com presidente russo Dmitri Medvedev
Entre os temas da pauta estão a redução dos arsenais nucleares dos dois países, o escudo antimísseis dos EUA no Leste Europeu e o Irã
DE NOVA YORK
O presidente Barack Obama
inicia amanhã viagem à Rússia
com o desafio de renovar um
programa de desarmamento
nuclear assinado no fim da
Guerra Fria, que limita os arsenais de cada país. A vigência do
Start (iniciais em inglês para
Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas) acaba no dia
5 de dezembro.
A negociação reflete a estratégia adotada no governo Obama de buscar um "reset" (recomeço) nas relações com o governo russo.
O tema é importante para
Obama, que já afirmou ser "responsabilidade moral" dos EUA
liderar os esforços para criar
um mundo sem armas nucleares. Vencer as resistências culturais, políticas e as diferenças
estratégicas no diálogo entre
Washington e Moscou não deverá ser tarefa fácil.
No governo Bush, o relacionamento entre os dois países ficou bastante desgastado, especialmente durante o conflito
entre Rússia e Geórgia, em
agosto de 2008, quando Washington se alinhou a Tbilisi.
Além do presidente Dmitri
Medvedev, Obama se reunirá
com o premiê Vladimir Putin,
com o ex-presidente soviético
Mikhail Gorbatchov e com líderes políticos e econômicos.
A agenda comum aos dois
países deve explorar temas como combate ao terrorismo, eficiência energética, mudanças
climáticas e o relacionamento
com o Irã. Os dois deverão assinar uma declaração de cooperação sobre o uso pacífico da
energia nuclear e de cooperação militar e de trânsito de
mercadorias militares dos EUA
ao Afeganistão.
Em abril, Obama e Medvedev
já haviam sinalizado a intenção
de avançar as negociações, na
reunião do G20 em Londres.
Em entrevista à Associated
Press, Obama afirmou que
mantém uma relação muito
boa com Medvedev, mas que
Putin "tem um pé na velha maneira de fazer negócios e um pé
na nova forma". Já Putin disse
que "está firmemente parado
sobre as duas pernas e sempre
olhando para o futuro".
Apesar da disposição declarada dos presidentes, as negociações podem esbarrar em divergências como o estímulo
dos EUA para a entrada da
Ucrânia e da Geórgia na Otan
(aliança militar ocidental) e o
projeto de um escudo antimísseis dos EUA baseado na República Tcheca e na Polônia.
Segundo Serguei Prijodko,
assessor do Kremlin para Assuntos Internacionais, o governo russo pretende vincular o
fechamento de um novo acordo
a um recuo nos planos de construir o escudo antimíssil.
Mas Michael McFaul, assessor de Obama e diretor do National Security Council para assuntos russos, afirmou que os
EUA não vão fazer concessões
em relação ao escudo antimísseis e nem abrir mão do apoio
dado à Ucrânia e Geórgia em
prol do "reset" com os russos.
Stephen Sestanovich, especialista em Rússia do Council
on Foreign Relations, afirmou
em teleconferência da qual a
Folha participou, que desta vez
o desempenho de Obama será
submetido de forma mais rigorosa ao escrutínio público.
"Esta viagem envolve uma
dimensão extra para ele, que é a
negociação prática. E isso deve
atrair mais atenção para a obtenção de resultados, se ele
conseguirá ou não um acordo
específico, principalmente para o controle de armas", disse.
Os EUA querem rever as discussões em relação ao Tratado
de Moscou, firmado em 2002
entre Bush e Putin. Esse tratado estabeleceu um limite de
1.700 a 2.200 ogivas nucleares
para cada país. A ideia agora é
reduzir o total de armas, mas
especialistas se mostram céticos quanto a um corte mais
drástico e avaliam que o novo
número será de cerca de 1.500.
"O que está conduzindo o
presidente Obama é a visão de
que os EUA e a Rússia precisam
mostrar liderança para obter
reação maior em outros Estados para lidar com duas ameaças nucleares que nos preocupam muito mais -a proliferação nuclear em outros países e
o acesso de terroristas a armas
e materiais nucleares", disse
Charles Ferguson, especialista
em ciência e tecnologia do
Council on Foreign Relations.
(JANAINA LAGE)
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