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Nacionalismo ergue templo hindu em sigilo
da Redação
A Índia, sociedade de cultura milenar, segundo país
mais populoso do planeta e uma potência nuclear, experimenta o sabor do nacionalismo.
No poder desde março, o partido nacionalista Bharatiya Janata (BJP), cujo símbolo está ao lado, patrocinou
uma aventura ao realizar testes atômicos, com o objetivo de enviar recados a dois vizinhos com quem coleciona rivalidades: a China e o Paquistão. As explosões nucleares, realizadas em maio, detonaram resposta paquistanesa. O país
muçulmano promoveu testes nucleares, com ajuda de tecnologia chinesa, para mostrar à Índia sua capacidade de destruição. Os EUA e aliados
impuseram sanções econômicas a essas ex-colônias do Reino Unido.
Desde o fim do domínio britânico, em 1947, Índia e Paquistão já se
enfrentaram em três guerras. A disputa pelo território da Caxemira (de
população muçulmana, mas com dois terços sob controle indiano) alimenta a tensão no sul da Ásia.
Os nacionalistas, embalados por sua primeira experiência no poder,
constroem um templo hindu num local que assistiu à destruição de uma
mesquita em 1992, em conflito responsável pela morte de centenas de
pessoas. O oceano populacional da Índia abriga 93 milhões de muçulmanos, cerca de 10% dos habitantes do país. Um conflito religioso jogaria
mais combustível na instabilidade que ronda o subcontinente indiano.
O fantasma do nacionalismo e do fundamentalismo religioso desponta
como um dos principais responsáveis pelo derramamento de sangue neste fim de século. Iugoslávia e Argélia são exemplos. Na Índia, a intolerância deixaria um rastro ainda maior de destruição.
PETER POPHAM
do "The Independent", em Nova Déli
Na semana passada, a Índia levou um susto ao descobrir que a
construção mais controvertida do
país, o templo ao deus Ram, que
os nacionalistas hindus querem
erguer no suposto local do nascimento do deus, vem sendo realizada em sigilo há sete anos.
O local em que se pretende erguer o templo -a cidade de
Ayodhya, no norte da Índia- é
como uma zona de guerra. Foi lá
que, em 1992, a destruição da antiga mesquita de Babri Masjid por
nacionalistas hindus desencadeou
conflitos com muçulmanos que
resultaram em centenas de mortes
em todo o país.
O local é cercado por arame farpado e torres de vigias. Soldados
patrulham as ruínas da mesquita
24 horas por dia. Pela lei, nada pode ser construído até que os tribunais concluam os processos.
O fato que veio à tona é que as
obras do templo começaram em
1991, com apenas oito artesãos especializados. Mas, no final de
1995, quando as contribuições para a obra chegaram a mais de 1 milhão de libras esterlinas, os trabalhos começaram a sério.
A notícia da construção sigilosa
do templo de Ayodhya chocou os
partidos de oposição e provocou
um baque no governo liderado pelo partido nacionalista Bharatiya
Janata (BJP), ainda animado com
os recentes testes nucleares.
O secretário-geral do Vishwa
Hindu Parishad (VHP), uma das
organizações extremistas hindus
responsáveis pela construção do
templo, colocou lenha na fogueira
ao dizer que a construção do templo, 25% da qual já estaria pronta,
poderá começar no prazo de dois
anos e será iniciada quer o BJP
ainda esteja ou não no poder.
"Nenhum poder na Terra", disse o líder do VHP, "nem a Suprema Corte, vai impedir a construção do templo em Ayodhya".
A construção do templo de Ram
foi um dos pilares centrais da plataforma eleitoral do BJP. O ministro do Interior, Lal Krishna Advani, e outros ministros do BJP enfrentam acusações criminais pelo
papel que desempenharam na demolição da mesquita.
Quando confrontado pela oposição, Advani respondeu com uma
declaração pouco convincente.
"Não vamos avançar além do
programa de governo. As determinações da Justiça com relação a
Ayodhya vêm sendo obedecidas."
Meca dos nacionalistas
Ayodhya é um lugar tenso e
sombrio porque é onde se concentra a energia coletiva dos nacionalistas hindus -é o lugar que escolheram para defender até a morte.
Ram é uma figura mítica. A idéia
de que tenha nascido em algum
lugar, como nasceram Buda, Jesus
ou Maomé, só possui sentido para
os muito devotos.
Ademais, a própria figura de
Ram constitui um acréscimo relativamente recente ao hinduísmo.
Na condição de divindade infantil,
ele era adorado pelos devotos de
Vishnu, e no épico "Ramayana" é
retratado como monarca cujo reinado ficava no norte do país. Mas
o VHP incrementou sua imagem
até transformá-la na do poderoso
governante de toda a nação.
Apesar disso, a queixa dos hindus é fundamentada: é verdade
que os invasores muçulmanos
destruíram muitos templos hindus e ergueram mesquitas utilizando as mesmas pedras. Ayodhya é o lugar onde os hindus pretendem promover sua vingança.
Parte da confiança que o VHP e
seus aliados sentem quanto ao futuro de seu templo vem do fato de
que seu arquiteto, Chandrakant
Sompura, tenha um histórico em
obras à distância. Com 2.500 trabalhadores, ergueu o templo de
Swaminarayan, em Neasden, no
Reino Unido, em apenas 28 meses.
As pedras usadas em Neasden,
numeradas, foram enviadas de
navio e ali montadas. O templo a
Ram será quatro vezes maior. Sua
construção, assim, será um desafio maior -principalmente devido aos protestos da oposição.
Tradução de
Clara Allain
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