São Paulo, terça, 5 de agosto de 1997.



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VIDA LONGA
Jeanne Calment era francesa
Morre aos 122 a mulher mais velha do mundo

MARTA AVANCINI
de Paris

Jeanne Calment, a mulher mais velha do mundo de acordo com o "Guinnes-Book - O Livro dos Recordes", morreu ontem aos 122 anos. A morte ocorreu em um asilo de Arles (sul da França), cidade natal de Calment. Ela morava no asilo havia 12 anos.
Calment se tornou a mulher mais velha do mundo em 1995, quando o japonês Shigechiyo Izumi morreu, aos 120 anos. O Guinnes se baseou no registro de nascimento para atribuir o título a ela.
Uma brasileira, Maria do Carmo Jerônimo, alega ter 126 anos, mas não dispõe de registro oficial que comprove sua idade.
Calment nasceu em 21 de fevereiro de 1875 e costumava contar, entre inúmeras histórias, ter visto o pintor holandês Vincent Van Gogh, quando ela era adolescente.
Van Gogh morou em Arles no final da década de 1880. O encontro teria acontecido em uma das vezes que o pintor foi comprar tintas na loja de um parente dela.
"Ele era muito feio e mal-educado. A gente chamava ele de 'o homem louco"', contava Calment.
Ela também costumava contar que "enterrou vários presidentes da França" e que viveu as duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45).
Por ter nascido no final do século 19, Calment acompanhou diversos fatos que entraram para a história -da invenção do cinema (1885) à chegada do homem à Lua (1969).
Calment era solitária. Seu marido, Fernand Calment, morreu em 1942, aos 74 anos. Sua única filha, Yvonne, em 36, e seu neto, Frédéric, em 54, vítima de um acidente de carro.
Ela era filha de um almirante e teve uma educação segundo os padrões burgueses da época.
Nos últimos anos, seu estado físico passou por um processo intenso de deterioração, mas, apesar disso, ela mantinha a lucidez.
Embora presa a uma cadeira de rodas, praticamente surda e quase cega, Calment ainda era capaz de repetir sequências de palavras e nomes, além de fazer contas de cabeça. Sua lucidez era considerada excepcional por geriatras, e sua longevidade atribuída a fatores hereditários -seu pai teria vivido mais de 80 anos, o que era considerado excepcional na época dele.
Sua última entrevista foi concedida à revista "Newsweek" e publicada na edição desta semana.
Apenas no ano passado, aos 121 anos, ela aceitou abrir mão de seus principais prazeres: comer chocolate, tomar vinho doce e fumar.
Sua longevidade era um fator de orgulho para a própria Calment e para a comunidade de Arles, mas a tornou alvo da exploração da mídia. No ano passado, trechos de declarações de Calment foram usadas em um disco de rap e funk intitulado "Maîtresse du Temps" ("Mestra do Tempo").
Para o presidente da França, Jacques Chirac, Calment era como uma "avó de todos nós". O primeiro-ministro Lionel Jospin enfatizou a "dignidade" de Calment em comunicado oficial.



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