|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARGENTINA
Colégio de Médicos diz que profissionais podem deixar de atender por razões de consciência; ONG vê discriminação
Médicos de Buenos Aires recusam bandidos
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
O Colégio de Médicos da Província de Buenos Aires deu aval
ontem aos médicos locais para
que possam recusar pacientes delinqüentes. O presidente da instituição, Maurício Eskinazi, liberou
os médicos do atendimento a pessoas que tenham cometido delito,
sempre que haja uma outra opção
de atendimento.
Segundo Eskinazi, "por razões
de consciência", os médicos estão
liberados do atendimento a pessoas que tenham cometido delitos
graves, como seqüestros, por
exemplo, quando o caso não for
urgente, como atendimento em
ambulatórios ou chamados para
prestar atendimento em delegacias de polícia.
O Instituto Nacional Contra a
Discriminação, a Xenofobia e o
Racismo (Inadi) qualificou a
orientação do Colégio de Médicos
de discriminatória e pretende fazer um estudo jurídico para impedir que os médicos sejam instruídos desta forma.
"Esse tipo de orientação estimula a discriminação e não fomenta
a solidariedade em nossa sociedade. Isso é fazer justiça com as próprias mãos, o que também é crime", disse o presidente do órgão,
Enrique Oteiza.
"A violência aumentou muito
na Argentina, e muitos médicos
foram vítimas de violência ou de
delitos em suas casas ou na rua e,
por isso, sentem transtornos
quando têm de atender delinqüentes. O número de consultas
sobre o que fazer nesses casos aumentou muito", disse Eskinazi.
O presidente do Colégio de Médicos, que representa 40 profissionais e é equivalente ao Conselho
de Medicina no Brasil, disse que a
orientação não caracteriza omissão de socorro porque os médicos
estão sendo orientados a recusar
o paciente somente quando houver outra opção de atendimento.
Segundo o advogado Ignácio
Maglio, "do ponto de vista estritamente jurídico, o médico não é
obrigado a atender todos os pacientes, com exceção de situações
de risco vital em que não há outro
médico para atender".
Para Oteiza, a atitude do Colégio de Médicos é uma reação corporativa ao seqüestro do filho de
um casal de médicos, há dez dias.
Segundo o governo, o total de
delitos violentos na Argentina subiu de 519 mil em 1992 para 1,3
milhão em 2002. Os seqüestros se
multiplicaram. Em 1999 foram registrados oito em todo país. Em
2003, o número subiu para 390,
dos quais 207 na Província de
Buenos Aires.
"Trata-se de um conflito entre
comunidades. Nunca pensei que
pudéssemos chegar a esse ponto",
disse ao jornal "Página 12" a antropóloga Josefina Martines.
Texto Anterior: EUA: Professora condenada por pedofilia é solta Próximo Texto: EUA: Missouri põe veto ao casamento homossexual em sua Constituição Índice
|