São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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Berlusconi esconde seio em pintura de Tiepolo de 1743

Porta-voz diz que decisão de mudar imagem evidente em entrevistas de líder italiano veio de assessores; ex-vice-ministro critica a medida

Quadro é reprodução de obra de pintor veneziano; canais do premiê exploram sexualidade, e sua vida amorosa é alvo de dúvidas


DA REDAÇÃO

Assessores do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, mandaram cobrir o seio de uma personagem retratada numa tela do século 18, sob o pretexto de que a imagem poderia "incomodar" telespectadores ou leitores de jornais.
O episódio, qualificado de "uma loucura" por Vittorio Sgarbi, vice-ministro da Cultura em um gabinete anterior do premiê, foi o grande assunto na Itália no fim de semana.
O quadro é uma cópia de "O Tempo que Desvenda a Verdade", pintado provavelmente em 1743 pelo veneziano Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770).
Foi o próprio Berlusconi quem o escolheu para decorar o salão em que recebe a mídia no palácio Chigi, em Roma, luxuosa sede do governo italiano.
O jornal "La Stampa" notou que, durante as entrevistas coletivas, o seio nu e arredondado da personagem alegórica "pairava sobre a calva do premiê como se fosse uma auréola".
Apesar de o patrimônio histórico do país reunir milhares de telas e esculturas em que a nudez é retratada sem nenhum preconceito e com a maior naturalidade artística, o porta-voz de Berlusconi, Paolo Bonaiuti, disse ao "Corriere della Sera" que a decisão partiu "de assessores responsáveis pela imagem do primeiro-ministro".

Sem moralismos
O chocante, na história, é que o direitista Berlusconi não tem seu comportamento associado ao conservadorismo com relação à sexualidade. As emissoras comerciais de TV de que é proprietário têm programas de variedade em que bailarinas se apresentam quase nuas da cintura para cima. O premiê, lembra o jornal britânico "Guardian", também não tem travas na língua ao conversar em reservado sobre suas aventuras amorosas de juventude.
O mesmo jornal diz que, no mês passado, Berlusconi, de 71 anos, cancelou uma entrevista coletiva em que seria inevitavelmente indagado sobre suas relações com a ministra da Igualdade, Mara Carfagna, 34. Ela é uma lindíssima morena, foi dançarina e apresentadora numa das TVs do atual primeiro-ministro. O marido de uma outra apresentadora de TV o está processando, sob o argumento de ter sido demitido da emissora depois que Berlusconi assediou sua mulher, versão que os advogados do premiê julgaram fantasiosa.
Mesmo que tudo não passe de pura maldade -que não é politicamente explorada pela oposição de esquerda-, o fato é que pintar uma redinha sobre os seios fartos e arredondados da personagem de Tiepolo foi qualificado de censura.
"La Stampa" comparou os assessores do premiê a Daniele Da Volterra, pintor medíocre que cobriu o sexo dos personagens de "O Julgamento Final", parte das cenas bíblicas retratadas por Michelangelo na capela Sistina, no Vaticano. Volterra, lembra o jornal italiano, tinha por apelido "Braghettone", o que significa "cuecão".


Com agências internacionais


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