São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

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Mãe retirante perdeu quatro dos cinco filhos em menos de 24 horas

DA ASSOCIATED PRESS, EM MOGADÍCIO

Kaltum Mohamed está sentada ao lado de um montículo de terra. O montinho é o túmulo de seu filho. E há três outros iguais.
Três semanas atrás, ela era mãe de cinco crianças pequenas. Mas a fome generalizada que devasta a Somália matou quatro de seus filhos. Sobrou apenas uma filha.
Os outros morreram de fome diante dos olhos de Kaltum e seu marido, enquanto eles caminhavam até a capital somali, Mogadício, em busca de ajuda.
Milhares de pais na Somália e nos campos de refugiados de países vizinhos estão chorando seus filhos mortos.
Kaltum Mohamed e seu marido tentaram levar seus filhos do sul esturricado do país para Mogadício, em tempo para receber ajuda emergencial das poucas organizações humanitárias que estão operando ali.
Eles iniciaram sua jornada na região de Baixa Shabelle, onde a ONU declarou situação de fome generalizada no dia 20 de julho.
A equipe da AP Television News encontrou Kaltum depois daquele dia aninhando seus filhos gravemente desnutridos em seus braços.
A família de Kaltum pertence a uma tribo de nômades pastoris, mas todo o gado da tribo morreu na seca.
Quando seus filhos adoeceram, ela os levou a um hospital de Baixa Shabelle, mas não teve como pagar o tratamento de que precisavam.
A maior parte da ajuda humanitária não está chegando ao sul do país. Um grupo aliado à Al Qaeda, o Al Shabab, controla boa parte do sul da Somália e insiste que não há fome generalizada.
A viagem da família Mohamed até Mogadício, a mesma que vem sendo feita por milhares de outros somalis, aconteceu tarde demais.
Os filhos de Kaltum morreram no caminho, de desnutrição aguda e problemas relacionados.
"A morte é inevitável", disse Kaltum à AP Television News ontem em um acampamento improvisado de Mogadício, onde estão centenas de outras pessoas deslocadas.
"Mas a surpresa foi como eu de repente perdi quatro de meus filhos em menos de 24 horas, por causa da fome."
Kaltum se agachou perto de um dos túmulos dos filhos e alisou com ternura a terra que o cobria. A mãe chorou e depois enxugou as lágrimas. Ela ainda tem uma filha que precisa tentar alimentar.
O mês sagrado muçulmano do Ramadã já começou, e a família está jejuando todos os dias. Sem comida, porém, Kaltum não sabe como eles poderão quebrar o jejum quando o sol se põe.
"A comunidade internacional precisa fazer mais para ajudar", disse ela.


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