São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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Rumsfeld acha que haverá novos atentados

THOM SHANKER
DO "THE NEW YORK TIMES"

O ponto mais forte dos novos adversários dos EUA é sua fluidez, acredita o secretário de Estado Donald Rumsfeld. Redes terroristas, sem fronteiras fixas, sedes ou forças convencionais são livres para estudarem a forma pela qual os EUA reagem a ameaças e adaptarem-se de acordo para preparar o que Rumsfeld está certo de que será um outro ataque.
"Eles observam como você está se comportando e fazem alterações e ajustes a um custo relativamente baixo, em um período relativamente curto e com relativamente poucas atividades de treinamento", disse Rumsfeld, referindo-se aos inimigos do país.
A Al Qaeda, por exemplo, tem líderes, orçamentos e uma hierarquia de comando e provou que pode infligir danos terríveis, mas não pode ser atacada com uma batalha tradicional.
Rumsfeld, em entrevista num Pentágono construído com tijolos e, agora, vidro resistente a bombas, concentra-se em manobrar um Exército pesado para que suas forças possam combater melhor um "inimigo virtual".
"Métodos tradicionais não adiantam", diz. Sua resposta é desenvolver formas mais rápidas e letais de combate, incluindo "ataques preemptivos", mas admite que "grandes instituições não são ligeiras" para se adaptar, e sim "pesadas, desajeitadas e lentas".
Em redes terroristas, por outro lado, "mudanças podem ser mais baratas, mais rápidas e, por algum tempo -mais tempo do que em nosso caso-, invisíveis".
Rumsfeld expressa preocupação com o "frenesi" gerado por uma possível ação militar contra o Iraque porque ele desvia a atenção das questões mais amplas: combater o terror e manter armas de destruição em massa fora do alcance de alguns adversários.
Mesmo assim, não fica claro se a frustração do governo com o atual debate público sobre a possibilidade de derrubar o ditador iraquiano Saddam Hussein também reflete uma irritação com o fato de que o assunto escapou das mãos da Casa Branca.
"Não estou frustrado", disse Rumsfeld. "O que estou tentando é voltar o olhar das pessoas para o que eu vejo como a grande questão que precisa ser discutida."
Nos meses após 11 de setembro -nos quais, segundo Rumsfeld, um dia equivalia a dois- , ficou claro que várias orientações na "guerra contra o terror" refletiam suas opiniões pessoais.
Os EUA precisam ser vistos por seus aliados e inimigos como "movendo-se para frente, não para trás", disse ele, pois um país visto como fraco atrai ataques.
Como é impossível se proteger de ataques terroristas em todo lugar a toda hora, é preciso se prevenir, afirma Rumsfeld -ou seja, levar o combate aos terroristas e aos Estados que os apóiam. Isso, segundo ele, requer uma forma mais flexível de construir coalizões, buscando aliados mas se recusando a permitir que pressões por parte deles restrinjam a liberdade de ação americana.
Rumsfeld se irrita com a descrição dos EUA como unilateralistas e costuma citar o número de países que se uniram à ofensiva contra o Taleban e a Al Qaeda no Afeganistão -e indica que há alguns cuja assistência não pode ser mencionada por causa de sensibilidades domésticas.
Ele aceita a importância da diplomacia, da lei, da inteligência e de instrumentos financeiros para combater o terror, mas diz acreditar que o país precisa aceitar o risco de perder vidas americanas.
Tudo isso provém de uma visão segundo a qual os atentados de 11 de setembro causaram uma grande mudança no mundo, oferecendo oportunidades para estabelecer novos relacionamentos e reordenar instituições globais de formas que terão efeitos dramáticos sobre como os EUA se defenderão e manterão a paz nas próximas décadas.
E, como outros membros do governo, o secretário adverte que a campanha contra o terror será longa, cara e sangrenta -a antítese de uma guerra de mísseis teleguiados combatida à distância.
Mesmo antes de voltar para o Departamento da Defesa após uma ausência de 25 anos, Rumsfeld já dizia que o Exército precisava ser reconfigurado para combater novos inimigos que explorariam as vulnerabilidades não examinadas dos EUA.
No seu plantão, isso acabou significando quatro aviões sequestrados -incluindo um que fez um vôo rasante sobre os combatentes americanos enterrados no Cemitério Nacional de Arlington antes de bater no Pentágono, em 11 de setembro.
Questionado se americanos estariam dispostos a apoiar uma ação militar mais ampla, Rumsfeld disse: "Minha esperança é a de que eles o farão por causa do fato de que há uma necessidade e porque pessoas democráticas e livres têm um centro de gravidade bastante bom".
Mas ele afirma que terroristas podem acabar fornecendo novas provas da necessidade de permanecer vigilante.
"O que também os faria aceitar [uma ação militar mais ampla] seria sermos pontuados periodicamente por novos ataques terroristas que nos lembrem de que temos uma obrigação para conosco e nosso sistema e nossos amigos e aliados no mundo de nos comportar de forma responsável."


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