São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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Ex-ministro palestino critica corrupção e defende reformas

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

O ex-ministro da Autoridade Nacional Palestina Nabil Amro tornou-se o principal líder árabe a criticar o governo de Iasser Arafat e defender reformas em sua administração e um amplo debate na sociedade palestina.
Em sua "carta ao presidente Iasser Arafat", publicada no jornal palestino "Al Hayat al Jadyda" (vida nova, em árabe), Amro pediu o fim da corrupção e da impunidade na Autoridade Nacional Palestina. "O que fizemos com o dinheiro? O que fizemos com a administração? Que tipo de avanço obtivemos?", questionou.
Amro disse à Folha, por telefone, que "a intenção foi abrir os olhos do governo para evitar um futuro ainda mais trágico, embora não soubesse se a carta seria publicada. A ocupação só se fortalece com a situação vigente".
Sobre as negociações de Camp David, realizadas nos EUA em julho de 2000, disse que os palestinos desperdiçaram a oportunidade de negociar um acordo com Israel, sob o patrocínio norte-americano -apesar das restrições que manifestou.
"Há árabes, palestinos e israelenses que se opõem às negociações. Eles todos possuem grande responsabilidade no fracasso das tentativas de acordo", afirmou.
"Não jogamos lama na imagem do presidente Bill Clinton, que ousou propor um Estado com alguns ajustes?", escreveu Amro no "Al Hayat al Jadyda".
"Tínhamos certeza do que fazíamos? Não, porque, depois de dois anos de [derramamento de" sangue, passamos a defender o que havíamos rejeitado", afirmou.
A onda de violência que sucedeu ao fracasso nas negociações e à visita de Ariel Sharon, atual premiê israelense, à Esplanada das Mesquitas (ou Monte do Templo, para os judeus) deixou milhares de mortos e feridos.
Desde o início da Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense), morreram pelo menos 1.533 palestinos e 589 israelenses.
Amro defendeu o fim dos atos de violência e um diálogo mais aberto e franco entre "os líderes e os liderados" palestinos.
"Senhor presidente [Iasser Arafat"... será que, porque temos uma causa justa, podemos fazer o que quisermos?? Será que a justiça de nossa causa justifica toda essa confusão doméstica", escreveu.
A maioria dos palestinos não questiona o status de Arafat, 72, como líder, mas muitos o criticam por seu autoritarismo e por sua tolerância com a corrupção.
No final de junho, o presidente dos EUA, George W. Bush, descartou Arafat como parceiro nas negociações de paz para a eventual fundação de um Estado palestino. Em resposta, Arafat anunciou eleições para o início do próximo ano (das quais pode participar) e prometeu reformas. Seu atual mandato, obtido nas urnas em 1996, já se encerrou. Ele alegava que a violência da Intifada impossibilitava novas eleições.
"Não defendi a saída de Arafat, mas a necessidade de ele mudar as propostas e promover reformas no governo", explicou Amro, membro do Legislativo, sobre a carta. Ele renunciou como ministro para assuntos parlamentares há três meses para "encorajar um debate interno na Palestina".


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